Leiam a seguir trecho da carta que o antropólogo Sérgio Ferretti encaminhou para os editores da “Revista História” sobre textos preconceituosos publicados no exemplar que se encontra nas bancas (nº 69 de junho de 2011) com o tema “Sociedades Secretas”.
“Em relação à reportagem de capa no Dossiê sobre sociedades secretas, achei muito estranho a forma com que é abordado superficialmente o culto da Jurema. O texto sobre a Jurema na página 24 está até sóbrio, o que está chocante é o título e o enfoque com que a matéria é tratada: Indústria do mistério, mistificação, mais mentiras que mistérios (subtítulo da capa). No título e subtítulos da página 25: "O sucesso do meu segredo, Religiões, sociedades ocultista, criminosos, ativistas políticos, Verdadeiros ou inventados... supostas verdades escondias". O culto da Jurema do Nordeste comparado na mesma página e colocado como em pé de igualdade com a Ku Kus Klan, Carbonária, Templários, Ordem dos Assassinos, Opus Dei, Priorado de Sião e outras Máfias.
Como antropólogo penso que esta mistura provoca mais confusão e amplia o preconceito do que esclarece. Uma religião popular do Nordeste, semelhante à Umbanda do sul ou ao Candomblé da Bahia ou a outras religiões é mostrada como forma de mistificação. Se for verdade, todas as religiões podem ser consideradas como forma de mistificação. Como antropólogo, estudioso da cultura e das religiões populares do nordeste, protesto contra o preconceito que esta excelente revista está contribuindo para divulgar.
Como manifestação de protesto, estou encaminhando cópia desta mensagem a colegas antropólogos do Nordeste e de outros Estados que como eu estudam a religiosidade popular no Brasil pedindo que a excelente Revista de História da Biblioteca Nacional evite colaborar na divulgação de preconceitos culturais e religiosos. Creio que esta posição da RH contribui para implantação de uma "guerra santa" que alguns praticantes de certas religiões atualmente querem desenvolver no país.
De forma similar, no mesmo número 69, a matéria assinada pela Dra Lana Lage da Gama Lima, dra em História pela USP e professora da Universidade Estadual Norte Fluminesne, também pode contribuir para a difusão de preconceitos contra o catolicismo. Todos sabemos que a inquisição perseguiu os padres que cometiam o crime da "solicitação". O título e subtitulo da matéria: Ajoelhou tem que rezar. Nos séculos XVII e XVIII muitos padres aproveitavam o momento da confissão para assediar sexualmente as mulheres", a meu ver pode contribuir igualmente para a divulgação de preconceitos. Sei que a Revista de História gosta de títulos que chamem a atenção do leitor, mas alguns parecem chamar atenção para o escândalo como forma de despertar o interesse do leitor. É claro que é importante o esclarecimento do público e o melhor conhecimento de nossa realidade cultural do passado. Mas atualmente com as críticas à pedofilia, à exploração das mulheres, acho que o tratamento deste tema deveria ser feito com mais sobriedade, sobretudo nos títulos.
É a minha opinião. Continuarei lendo a Revista de História e discutindo com meus alunos e orientandos, mas creio a antropologia nos ajuda a lidar com mais cautela contra os julgamentos de valor".
Atenciosamente,
Sergio Ferretti - Antropólogo - Professor Emérito da UFMA.
“Em relação à reportagem de capa no Dossiê sobre sociedades secretas, achei muito estranho a forma com que é abordado superficialmente o culto da Jurema. O texto sobre a Jurema na página 24 está até sóbrio, o que está chocante é o título e o enfoque com que a matéria é tratada: Indústria do mistério, mistificação, mais mentiras que mistérios (subtítulo da capa). No título e subtítulos da página 25: "O sucesso do meu segredo, Religiões, sociedades ocultista, criminosos, ativistas políticos, Verdadeiros ou inventados... supostas verdades escondias". O culto da Jurema do Nordeste comparado na mesma página e colocado como em pé de igualdade com a Ku Kus Klan, Carbonária, Templários, Ordem dos Assassinos, Opus Dei, Priorado de Sião e outras Máfias.
Como antropólogo penso que esta mistura provoca mais confusão e amplia o preconceito do que esclarece. Uma religião popular do Nordeste, semelhante à Umbanda do sul ou ao Candomblé da Bahia ou a outras religiões é mostrada como forma de mistificação. Se for verdade, todas as religiões podem ser consideradas como forma de mistificação. Como antropólogo, estudioso da cultura e das religiões populares do nordeste, protesto contra o preconceito que esta excelente revista está contribuindo para divulgar.
Como manifestação de protesto, estou encaminhando cópia desta mensagem a colegas antropólogos do Nordeste e de outros Estados que como eu estudam a religiosidade popular no Brasil pedindo que a excelente Revista de História da Biblioteca Nacional evite colaborar na divulgação de preconceitos culturais e religiosos. Creio que esta posição da RH contribui para implantação de uma "guerra santa" que alguns praticantes de certas religiões atualmente querem desenvolver no país.
De forma similar, no mesmo número 69, a matéria assinada pela Dra Lana Lage da Gama Lima, dra em História pela USP e professora da Universidade Estadual Norte Fluminesne, também pode contribuir para a difusão de preconceitos contra o catolicismo. Todos sabemos que a inquisição perseguiu os padres que cometiam o crime da "solicitação". O título e subtitulo da matéria: Ajoelhou tem que rezar. Nos séculos XVII e XVIII muitos padres aproveitavam o momento da confissão para assediar sexualmente as mulheres", a meu ver pode contribuir igualmente para a divulgação de preconceitos. Sei que a Revista de História gosta de títulos que chamem a atenção do leitor, mas alguns parecem chamar atenção para o escândalo como forma de despertar o interesse do leitor. É claro que é importante o esclarecimento do público e o melhor conhecimento de nossa realidade cultural do passado. Mas atualmente com as críticas à pedofilia, à exploração das mulheres, acho que o tratamento deste tema deveria ser feito com mais sobriedade, sobretudo nos títulos.
É a minha opinião. Continuarei lendo a Revista de História e discutindo com meus alunos e orientandos, mas creio a antropologia nos ajuda a lidar com mais cautela contra os julgamentos de valor".
Atenciosamente,
Sergio Ferretti - Antropólogo - Professor Emérito da UFMA.
Tem razão o Ferretti. Divulguei o post no twitter e no facebook.
ResponderExcluirBeijo