Sábado, 21 de julho. Noite de festa no Candomblé Oxum Maré Ilê Axé, quando se comemorava a consagração de pai
Sílvio, na Jurema. Durante a semana que antecedeu, Pai Jeová (Jeová Brasil),
responsável pelo Ilê telefonou-me informando e convidando-me para a solenidade.
O convite foi propício, pois algum tempo não tinha oportunidade de ir na casa
de Jeová. Na noite do sábado, conforme combinado, por volta das 20 horas lá
chegava e de longe a iluminação da rua, em frene ao Ilê, chamou-me atenção.
Além das muitas luzes, a casa estava toda iluminada, destacando a beleza do espaço
religioso e ressaltando uma placa contendo em letras garrafais o nome do
estabelecimento. Identificar o templo religioso não é uma prática comum na
cidade de Natal, fruto de anos de hostilidade e perseguição. Não que estes
tipos de ações tenham acabado ou diminuido, mas no contexto atual de afirmação
da cultura afro-brasileira ela adquire outras formas de existência.
Segui direto para o interior da casa, para o salão principal, onde estava
iniciando a mesa de Jurema para consagração e apresentação do recente juremeiro
da cidade. O salão estava repleto e observei que nos primeiros minutos não
parou de chegar grupos ou pessoas individuais. Entre os presentes, além dos
seguidores da casa de Jeová e do próprio Pai Sílvio, outros pais de santo (com
seu grupo), amigos, convidados (como políticos em campanha).
A solenidade seguiu conforme manda a tradição, acompanhada de música, dança
e a alegria-prazer para estabelecer contato com as entidades espirituais. O
momento esperado da gira e das apresentações dos “mestres” – encantados, que
continuam encantando a todos nessas noites da cidade, foi bela e contagiante,
não apenas por ver o mestre vestido, mas por estar ao seu lado, compartilhar,
conversar com ele.
A minha grande surpresa da noite foi poder reencontrar dona Marlene,
viúva de Babá Karol, falecido a três anos. É bom lembrar que Karol fez história
na cidade de Natal, imprimindo uma tradição da Jurema que perpassa por grande
parte dos terreiros da cidade. Dona Marlene vem participando das atividades
religiosas na casa de Jeová e contou-me do desejo de realizar um toque no salão
onde Karol foi mestre absoluto.
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