A potiguar Maria Ieda Silva de
Medeiros, 82 anos de idade, conhecida como Dadi – Mestra Dadi – calungueira,
brincante do João Redondo, teatro popular de bonecos, foi a principal homenageada
no 2º Seminário de Teatro de Animação, realizado recentemente em Joinville, Santa
Catarina.
O João Redondo é uma forma de
expressão do teatro popular de bonecos, marcado pela influência da estrutura
dramática da commedia dell’arte,
combinando ritmos e personagens da cultura popular local ao utilizar bonecos
que encarnam personagens e ganham vida através da vocalidade do brincante. O enredo tradicional do teatro de João Redondo gira em torno da relação
entre o Capitão João Redondo, fazendeiro, e o Nego Baltazar/Benedito, que, na
maioria das histórias, é seu empregado, construindo representações sobre as
relações de dominação-dominado e a inversão de hierarquias, no texto obra em performance.
Dadi, ao realizar sua brincadeira, cria
personagens, elabora suas apresentações. Mas também se tornou conhecida por sua
arte de fazer bonecos, no qual se destaca por extrapolar os habituais bonecos
de luvas, ao dar forma a marionetes de fios, de vara, em bonecos de grande
porte.
Nessa terra potiguar são muitos os
nomes de brincantes do João Redondo, alguns são referências para a geração mais
nova. Apenas uma mulher – Dadi, nessa linhagem que inclui o mestre Bastos (Sebastião
Severino Dantas), considerado um dos primeiros que se tem notícia, mestre Zé Relampo,
mestre Chico Daniel (Francisco Ângelo da Costa), mestre João Viana, entre
outros.
O amor pela arte de brincar o João
Redondo não é o único elemento que liga todos eles. A brincadeira que também é
trabalho, sobrevivência, ou melhor, dizendo, é a vida de mulheres e homens que
se dedicam a resistir no universo da cultura popular. Recentemente tomamos
conhecimento de brincante de João Redondo que colocou via internet sua mala de
brinquedos (de trabalho) a venda para obter recursos que garantisse sua
sobrevivência. Esse é um exemplo, pode ser o mais recente, mas poderíamos
elencar diversos outros.
Resistência talvez seja a melhor
tradução da luta travada por querer continuar a viver e tecer fios próprios de histórias
e memórias, frente a estruturas que excluem de suas políticas o direito das
culturas tradicionais existirem.
Para saber + sobre o João Redondo:
CANELLA, Ricardo Elias Ieker
Canella. A construção da personagem no
João Redondo de Chico Daniel. Dissertação
de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Natal: UFRN, 2004.
GOMES, José Bezerra. Teatro de
João Redondo. Natal: Fundação José Augusto, 1951.
GURGEL. Deífilo. Espaço e tempo do folclore potiguar. Natal: Grafpar, 1999.
JASIELLO,
Franco Maria. Mamulengo – o teatro mais
antigo do mundo. Natal: A.S. Editores, 2003.
MACÊDO,
Zildalte Ramos de. Show de Mamulengos de
Heraldo Lins: construção e transformações de um
espetáculo na cultura popular. Natal: IFRN− Editora, 2015.
_____. Teatro de João Redondo do Rio Grande do Norte: transmissão,
negociação e circulação da prática e do saber. Tese de Doutorado. Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social. Natal: UFRN, 2019.
PEREIRA, Maria das Graças Cavalcanti.
Dadi e o Teatro de Bonecos: memória,
brinquedo e brincadeira. Natal: Fundação José Augusto, 2011.
A professora Graça Cavalcanti tem se dedicado a pesquisar a vida e a obra da mestra Dadi.
ResponderExcluirParabéns pelas reflexões acerca do nosso patrimônio cultural que servem também para repensarmos sobre nossas pesquisas na academia, para reivindicarmos ações do poder público, enquanto conhecedores dessa realidade e como cidadãos.
ResponderExcluirMuito interessante!
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