sábado, 30 de abril de 2022

Mãe Nem encantou-se

 

Foto: Luiz Assunção, 2012.

A Iyalorixá Maria da Glória Silva, Mãe Nem, 86 anos de idade, encantou-se, foi para o orum no dia 06 de abril passado. Reconhecida na religião local como uma das últimas representantes da velha geração do nagô pernambucano na cidade de Natal, nasceu em Canguaretama – RN, mas ainda jovem veio morar em Natal e ao enfrentar problemas de saúde iniciou seu caminho no candomblé e na jurema, fundando posteriormente, o Centro Iemanjá Sabá Omi, no bairro de Bom Pastor, ao qual dedicou-se por mais de 50 anos. 

Conheceu e conviveu com os principais religiosos do candomblé e da jurema em Natal dos anos de 1950 e 1960, entre eles: Tenente Andrade, Babá Karol, Pai Leó e Pai Nino. Depois de passar pelas casas de Tenente Andrade e de Babá Karol, onde assumiu o cargo de Mãe Pequena, no início dos anos de 1960 realizou seu processo de iniciação no candomblé Nagô Egbá com Pai Leó, Ojé Ladê (Leonardo Oliveira), sacerdote que viera da capital pernambucana e aqui se instalou para difundir o nagô em terras potiguares. O nagô pernambucano, que se distingue do candomblé baiano, teve forte influência nas religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Norte. Antes de abrir sua própria casa, Mãe Nem participou da casa de Pai Nino no Bom Pastor, onde assumiu o cargo de Iyakekerê da casa. 

Por sua casa passaram conhecidas mães e pais do cenário religioso afro-brasileiro de Natal, como Marcelo de Obaluaiyê, Mãe Jovelina Tibúrcio, Mãe Helena Varela, Mãe Maria de Obá, Pai Renato Canário, entre outros/as. 

Após o fechamento de sua casa, continuou dedicada a religião, participando dos rituais mensais na casa de sua filha de santo, Maria de Obá (Centro Espírita Xangô Mafilomã) no Bairro das Quintas. 

Em 2012, numa produção do Grupo de Estudos Culturas Populares/UFRN, participei juntamente com os pós-graduandos do PPGAS/UFRN, Marcos Queiroz e Elisa Almeida, da produção do vídeo Contribuição de Mãe Nem para o Fórum Internacional Permanente sobre diversidade nas religiões afro-brasileiras/afro-americanas, coordenado pela Faculdade de Teologia Umbandista de São Paulo. 

No referido documento virtual, disponível no YouTube (ver matéria a seguir), a iyalorixá protagoniza um dos mais belos depoimentos ao falar sobre sua concepção de candomblé e umbanda. 

https://youtu.be/Rhx9DC3VzwA

No ano de 2013 Mãe Nem foi agraciada com a Medalha do Mérito Deífilo Gurgel pelo Governo do Estado do RN, Secretaria de Cultura-Fundação José Augusto e em 2020 recebeu o Prêmio Mestres/Mestras das Culturas Populares concedido pela Fundação Capitania das Artes-Prefeitura de Natal. 

 

 


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