Nos últimos anos tenho me dedicado ao estudo sobre o tema do arquivo e acervos documentais e visuais das comunidades tradicionais de terreiro de Natal. Para ser mais preciso o inicio dessas reflexões aparece em minhas pesquisas anteriores, quando me deparo com as diversas situações que envolvem, principalmente, o fechamento das casas religiosas, por diferentes motivos, e, que tem como uma das consequências o esfacelamento ou mesmo a destruição do acervo cultural de bens do patrimônio material e imaterial construído e guardado ao longo de anos pela liderança religiosa e sua comunidade.
Em 2017 conheço dona Nilza Barroso e encontro o acervo documental, composto por vários livros escritos e documentos diversos, deixados por seu pai, o babalorixá Tenente Barroso, fundador do Centro Humilde de Caridade São Lázaro no bairro das Quintas. Estava diante de um conjunto de diferentes objetos e artefatos, dotados de conhecimentos, historicamente constituídos e passíveis de leituras e interpretações.
No caso do acervo de babá Barroso, uma equipe voluntária formada por estudantes e especialistas procedeu o inventário dos objetos, a descrição técnica e etnográfica, catalogação, fotografia dos objetos, higienização dos documentos escritos e visuais, e, a digitalização da documentação. Durante o processo de estudo organizou-se no Departamento de Antropologia da UFRN, um evento internacional com convidados/as, entre as quais estava a professora Stefania Capone, que juntamente com representantes das comunidades de terreiro discutiram a temática. A realização do evento propiciou a produção de publicações acadêmicas e encaminhamentos específicos relacionados ao acervo de babá Barroso.
São muitas as questões que envolvem
o temas dos acervos documentais das comunidades tradicionais de terreiro,
desde àquelas que tratam sobre a ausência de condições materiais e técnicas para
sua manutenção, como as de ordem da quebra da privacidade e publicização. Penso que trazer para reflexão o tema do
arquivo/acervo de bens culturais patrimoniais, sobretudo se faz urgente para
abertura de agendas que possibilitem a devida visibilidade das reflexões, ações
políticas, inclusive de políticas públicas no campo da memória e patrimônio
cultural afro-indígena brasileiro.
Saber + :
“Terreiros
do Passado”, matéria publicada no Jornal
Tribuna do Norte, Natal, 02/08/2018.
http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/terreiros-do-passado/420080
ASSUNÇÃO, Luiz; CAPONE,
Stefania; MORAIS, Mariana Ramos de. Dossiê Patrimônio afro-religioso:
acervos, preservação e fonte de conhecimento.
ASSUNÇÃO, Luiz. Saberes Escritos, guardados: o acervo documental do Centro Humilde de Caridade São Lázaro, Natal – RN.
In: Vivência
Revista de Antropologia – DAN/PPGAS/UFRN
https://periodicos.ufrn.br/vivencia/issue/view/1055
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