terça-feira, 30 de junho de 2009

Comunidade Quilombola do Jatobá

A comunidade negra rural do Jatobá está localizada na mesorregião geográfica do Oeste Potiguar, estado do Rio Grande do Norte, a 10 km da sede do município de Patu e a 396 km da capital do estado, Natal.
Os moradores da comunidade negra do Jatobá são descendentes de Manoel e Raimunda, escravos de Joaquim Teixeira Dantas, proprietário de terras no Patu de Fora, município de Patu (RN). A escravidão faz parte da história dessa família. Manoel era filho da escrava Vicência; Raimunda, índia, fora “pega a dente de cachorro e a casco de cavalo”. Manoel e Raimunda tiveram treze filhos: Maria (1865), Benedicta (1866), Theresa (?), Joanna (1871), Jorge (1872), Joaquina (1874), Domingos (1875), Marcionilla (1876), Anna (?), Rita (?), as gêmeas Juliana e Júlia (1880) e Raymunda (1882).
É provável que, por volta de 1880, Manoel e Raimunda tenham se fixado na região de Atenas, em uma propriedade dos Andrade, uma vez que estes aparecem no registro de batizado como padrinhos das três últimas filhas do casal de escravos.
Será em Atenas que João Luiz de Aquino, neto dos ex-escravos, formará família, dando início a uma nova trajetória na vida dos “negros de Atenas”. João Luiz era filho de Joaquina e Luiz José (conhecido por Luiz Gago). Casou-se com uma prima, Maria Juliana, filha de Juliana, irmã de Joaquina. Isso ocorre depois de sua dispensa da condição de soldado do Exército, pois ele serviu em Natal, no período de 1918-1919. Segundo as lembranças de seus parentes, João Luiz, ao voltar do Exército, passou a se dedicar à criação de animais e à função de marchante, o que lhe propiciou a acumulação de certa quantia, que favoreceu a compra de um pequeno terreno.
Adquirir um pedaço de terra em Atenas foi uma estratégia fundamental empreendida por João Luiz para escapar, ele e seus parentes, das armadilhas do sistema formal pós-abolição; aliás, prática não muito comum entre as comunidades negras rurais do estado do Rio Grande do Norte estudadas.
A compra da terra possibilita, pela primeira vez, desde o período pós-escravatura, pensar-se na construção de um território, ou seja, de um espaço como refúgio, lugar de viver, de se reconhecer como pertencente a um grupo social, permitindo a elaboração de identidades e, principalmente, viabilizando uma emancipação do grupo. Nesse sentido, o território é um lugar de investimento de projetos, desejos, representações, comportamentos; é o investimento do desejo em um determinado tempo, lugar. E esse investimento, para os negros de Atenas, incluía pensar o grupo, mais especificamente a família, estratégia presente desde a época da escravidão. Para a terra onde vai morar, João Luiz chama seus parentes Chico Bernardo e João Raimundo, juntando, na mesma terra, descendentes das três irmãs – Joaquina, Júlia e Juliana –, filhas dos ex-escravos Manoel e Raimunda.
Impossibilitado de continuar na Atenas, João Luiz resolve vender o pequeno sítio. Como era marchante e fazia a feira na cidade do Patu, começou a procurar terra na região. Isso não seria estranho, uma vez que continuaria no mesmo espaço geográfico e, portanto, próximo dos demais parentes, o que significava contato e circulação entre famílias e parentes. Para a compra que pretendia fazer, da nova terra, João Luiz contava com a venda do sítio Atenas, mas também com as economias que fazia no ofício de marchante.
João Luiz encontra um sítio que o interessa, o sítio São Gonçalo, na localidade Jatobá, município do Patu. O sítio foi adquirido por compra feita por João Luiz de Aquino a Joaquina Maria da Conceição, viúva de Manoel Gonçalo de Lima, em 31/12/1941. É o momento da partida do sítio Atenas; de cortar os elos que o liga e aos seus a um passado escravista. Mas é principalmente o momento de renovar o sonho de “viver tudo junto”: os negros novamente vão estar juntos, uma família – a família dos negros da Atenas.



5 comentários:

  1. Aldemir Soares de Aquino27 de julho de 2010 às 20:32

    Nossa.....adorei ver escrito um pouca da Historia da minha Familia. Eu,Aldemir Soares de aquino,Hoje moro em São Paulo e meu Pai ainda Mora no Sitio Jatoba. Obg pela Oportunidade e a Materia !

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  2. Ana Luzélia de Andrade Melo Souza1 de abril de 2012 às 20:10

    ANA LUZÉLIA DE ANDRADE MELO SOUZA

    Que Maravilha essa matéria...AMEI, uma brilhante história sobre essa familia que eu tanto a AMO...Parabéns pela matéria..morei no sítio jatobá até os meus 22 anos, sinto muita saudade de todos...sou neta de Chico Andrade e filha de Lila e Renato Melo...AMO TODOS VCS...um grande abraco...

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    1. Olá, gostaria de saber como fazer para conhecer essa comunidade. Agradeço se puder me passar informações. Email: erykamgs@gmail.com

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  3. Quanta emoção ao lê essa matéria. Lembro bem quando no período de férias escolares...rumava com destino ao sítio Jatobá...viver dias maravilhosos com meu saudoso avó Chico Andrade...minhas amadas tias Lila, Beta e primos. Visitava os compadres da minha mãe, Sereno e Dulcilia!!!

    FRANCISCO HIGINO DE ANDRADE NETO

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  4. teria algo mais a acrescentar sobre isso, escritor? meu tcc está sendo sobre essa comunidade

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Universidade de Lisboa