No dia 21 do
corrente mês, a sociedade potiguar foi surpreendida com a notícia de que uma
jovem senhora havia sido brutalmente assassinada em ritual de magia negra, no
bairro Jardim Progresso, na zona norte de Natal.
A descoberta
dessa lamentável atrocidade, promoveu uma grande discussão em torno das
religiões de matriz africana ou afro-ameríndia, pairando sobre as mesmas a
acusação de realizarem sacrifícios humanos ou maus tratos em suas práticas
religiosas, promovendo uma ferrenha perseguição aos seguidores das mencionadas
religiões, contando-se com ameaças a integridade física de religiosos e vilipêndio
às casas de culto ou terreiros.
Diante desta
situação, nós, representantes das religiões de matriz africana ou
afro-ameríndia, assim designados candomblecistas, umbandistas, juremeiros ou
praticantes de mesa branca, reunidos na tarde do dia 24 de maio de 2013, na
seda da UERN Zona Norte, conforme lista de presença, aprovamos por maioria
absoluta o presente texto e vimos a público para nos posicionarmos e
esclarecermos o seguinte:
01 – Somos
peremptoriamente contrários a qualquer prática de violência, maus tratos,
atrocidades, assassinatos ou qualquer outra conduta que atente contra a vida e
a dignidade da pessoa humana.
02 – Não
existe sacrifício humano ou qualquer mutilação ou prática de tortura e
crueldade dentro dos rituais religiosos por nós praticados, sendo tais
afirmações criações do imaginário popular, alimentado pelo preconceito.
03 – O
agentes que efetivaram o homicídio contra a Sra. Edilma Dantas de Souza
praticaram uma conduta criminosa, violenta e impossível de ser tolerada por
qualquer que seja a designação religiosa, não sendo essa bizarra atitude
prática de conduta das nossas religiões.
04 –
Externamos o nosso constrangimento em ver os nomes das nossas religiões
invocados pelos praticantes de tão aberrante homicídio, assim como nos
posicionamos de forma contudente a favor da condenação dos mesmos, face à
violência praticada.
05 –
Reafirmamos que os agentes criminosos não praticaram atos legitimados pela
nossas religiões e que as bizarrices advindas à público, como manifestações com
falsas entidades e invocações de seres demoníacos, são atos de charlatanismo e
mau-caratismo, em nada se relacionando com as práticas do candomblé, da umbanda
e da jurema.
Solidarizamo-nos
com a dor da família da vítima, assim como somamos nossos esforços e intenções
para que a Justiça seja feita e os criminosos possam ser efetivamente punidos,
de acordo com os rigores da Lei.
Nossas
religiões e crenças são a favor da vida, da promoção da dignidade e da
cidadania, razão pela qual nos sentimos consternados pelo ato brutal praticado
pelos referidos criminosos.
Por tal
razão, vimos a público apresentar nosso repúdio ao ato bárbaro praticado, para
que seja afastado o véu do preconceito e das falsas afirmações sobre as nossas
religiões, a fim de que as nossas casas de culto, nossos zeladores e fiéis não
sejam culpabilizados por condutas alheias às nossas práticas e princípios
religiosos.
Natal, 24 de
maio de 2013.
Representantes
de Comunidades de Terreiro
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