O rico universo das religiões afro-brasileiras,
investigado com competência e profundidade por Marcos Queiroz, nos oferece a
oportunidade de mergulhar num livro cheio de encantos. A apresentação da obra é
quase um thriller; o convite para
acompanhar o autor nas “horas mortas” pelas ruas de Natal e pelas casas de
catiço é aceito de imediato por nós, leitores, envolvidos que somos pelo
chamado do mistério.
O livro Em casa
de catiço traz como subtítulo etnografia
dos exus na Jurema. Essa forma quase singela de nomear esconde de fato um
trabalho minucioso, mas que vai muito além da minúcia cuidadosa. Marcos mostra
sutileza nas perguntas que faz, nas respostas que encontra e no modo de
encontra-las. Busca as narrativas míticas presentes nas falas dos seus
interlocutores, no desempenho das entidades ali incorporadas, nos pontos
cantados e nas cerimônias religiosas. Especialmente, inova no modo de dialogar
graficamente as falas diversas: de autores, da sociedade local e dos adeptos
das diferentes casas visitadas. Sua primeira grande pergunta é: Que símbolos e
arquétipos são acionados na composição dos personagens exus, no contexto
umbandista local sob a influência do culto da Jurema?
As suas
respostas articulam o local e o mais além – do particular ao universal. Em
termos nacionais, ele escolhe uma figura emblemática que aponta para os
processos socioculturais da construção, das rupturas, da continuidade, das
interlocuções e empréstimos, das misturas. Exu se mostra uma representação
bastante boa da realidade sociocultural brasileira – somatório de influências
conflitantes e, não obstante, articuladas.
As palavras
com que o autor encerra sua apresentação podem bem ser as nossas palavras
finais e o início do percurso de leitores diversamente interessados: “Convido-o,
leitor, a seguir os meus passos. Alicio para que me acompanhe nessa trajetória.
Nela vamos nos aventurar, como eu me aventurei. Vamos surpreender, metermo-nos
na vida do povo do santo e também na do povo da rua”. Aqui começa a parceria
com os leitores.
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