O ano começa com o VII Encontro de Juremeiros e Juremeiras, realizado no primeiro domingo de janeiro, no pátio da Fundação Capitania das Artes, que pode ser pensado como abertura do calendário público das comunidades tradicionais de terreiro de Natal.
É muito significativo que mulheres e homens celebrem publicamente sua religião, em uma sequência que culmina com o atual sétimo encontro. Isto não é à toa. Estar no espaço público representa uma ação diferente da ideia historicamente conformada aos terreiros como espaços privados, escondidos, de invisibilidade dos cultos; representa poder estar no mundo externo ao terreiro, ocupar as praças, os centros culturais e demais espaços públicos; representa o direito de se expressar publicamente. Significa igualmente estratégia política para reconhecimento de suas práticas, combate ao racismo e a intolerância religiosa.
O primeiro encontro, realizado em 2018, no Museu Memorial da Capoeira, no bairro de Cidade Nova, reuniu a família do Mestre Benedito Fumaça, sob a liderança de Pai Freitas, em uma programação que constou de comunicações e o toque de jurema. O evento enuncia o tema “juntos seremos fortes” e a urgência do combate a intolerância. A semente tinha sido plantada e os frutos foram sendo conquistados.
Mas para que os frutos brotassem foi necessário organização e articulação com instituições públicas, gestores e com as próprias comunidades de terreiro. O apoio recebido da Fundação Capitania das Artes foi decisivo para a mudança do local de realização do evento e implementação de outros elementos na programação. O toque e a gira de jurema será mantida como o momento principal do encontro, em que todos cantam e dançam em um longo círculo de energias. Na sequência dos encontros, pessoas foram sendo homenageadas e são incluídas as apresentações musicais, a feira de comidas típicas e de artesanato produzidos por pessoas das comunidades de terreiro. No encontro realizado no ano passado, um pé de jurema foi plantado no jardim da Funcarte.
É possível afirmar que ao longo dos encontros um público mais amplo foi sendo incorporado, extrapolando àquele definido no primeiro encontro, agora advindos das demais comunidades de terreiro da cidade do Natal, região metropolitana e dos estados vizinhos, Paraíba e Pernambuco, como também de pessoas da sociedade, inclusive turistas, não necessariamente vinculadas ao universo da religião. Igualmente importante, nesse campo de análise, é a presença de parlamentares do Partido dos Trabalhadores das três esferas do legislativo, como também as representações de coletivos e da militância ligada aos terreiros.
Nos últimos encontros tem-se observado a presença de representantes das comunidades tradicionais indígenas do Estado do RN, politicamente muito importante para os dois segmentos – religioso e indígena, e, significativo pelo fato histórico e cultural da tradição indígena da religião jurema.
Ao
ser percebido pela comunidade religiosa como consolidado, o Encontro de Juremeiros e Juremeiras deve pleitear aos órgãos
competentes sua inclusão no calendário cultural da cidade do Natal.
Memória
iconográfica:
Fonte: Fórum Estadual das Comunidades de Terreiro. Na foto, Deputada Federal Natália Bonavides.
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