O Rio de Iemanjá
O Rio de
Iemanjá. Um olhar sobre a cidade e a devoção é o título do livro de Joana
Bahia, professora do Departamento de Antropologia da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ), lançado recentemente pela Editora Telha.
A publicação é resultado de trabalho de
pesquisa no qual acompanha histórica e empiricamente a presença de Iemanjá e a
sua devoção na cidade do Rio de Janeiro. Ao percorrer os caminhos de Iemanjá
(“o caminho das flores”), olha atentamente para a cidade e tece significativas
reflexões sobre a história das religiões afro-brasileiras, sua presença na
cidade, no espaço público e os conflitos que acompanham esses contextos.
No final da introdução, em que expõe os
principais pontos de sua pesquisa e reflexões, a autora escreve: “Seguir o
caminho das flores nos evidencia um sagrado constituído não apenas no interior
dos terreiros, mas que pode ser sacralizado em outros espaços. Não apenas o
sagrado dos templos e das igrejas podem construir espaços para onde a cidade
cresce, mas o mágico, o mediúnico pode transformar as paisagens e os corpos
urbanos”.
O livro foi concebido como uma cartografia. Uma
cartografia da presença e da memória: “os guias, orixás e encantes e outros
tipos de espíritos são os caminhos, pelos quais podemos reconstruir essa
cartografia”. O processo de pesquisa está focado no sentir os muitos fragmentos
da vida na cidade (“os corpos, mercados, a direção da linha do trem, os
aterros, praias, encruzilhadas, festas”), mas igualmente com a mesma
intensidade em que percorre a cidade, a autora realiza entrevistas com líderes
religiosos, pais e mães de santo de umbanda e candomblé, procede a leitura e análise
de jornais das décadas de 1940-1950 e o registro fotográfico.
O livro está organizado em treze capítulos em
que temas e questões se cruzam, entre as quais, como a devoção à Iemanjá é
produzida na cidade, as representações e a ocupação dos grupos afro-religiosos
desde o final do século XIX; a formação do campo umbandista, suas diferentes
visões e modos de cultuar Iemanjá; a expansão das religiões afro-brasileiras entre
1940 e 1970, crescimento, novas lideranças e disputas internas. A relação do
movimento negro com o universo religioso e as políticas de promoção das
identidades negras. As muitas festas, inclusive as recentes, que evocam o culto
a Iemanjá, como a da Glória, aquelas organizadas pelo Mercadão de Madureira,
Afoxé Filhos de Gandhi, entre outras. A produção de novas formas de
intolerância religiosa em um contexto marcado pelo conservadorismo social e
político.
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