Luiz Assunção
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
sábado, 25 de janeiro de 2025
O combate ao racismo e a intolerância religiosa deve ser permanente. Lançado o ARQUIVO AFRO-RELIGIOSO
No dia 21 de janeiro, data nacional de combate
à intolerância religiosa, aconteceu o lançamento do projeto Arquivo Afro-Religioso: Memória e
Patrimônio das Comunidades de Terreiro – RN no Complexo Cultural da UERN –
Natal Zona Norte, com intensa programação e participação de representantes das
comunidades tradicionais de terreiro da cidade de Natal e região metropolitana,
ocasião em que foram homenageados/as com a entrega de certificado.
O projeto tem por objetivo promover o
registro do acervo cultural de bens documentais escritos, visuais e de
artefatos do patrimônio afro-religioso potiguar. Ao proceder o registro,
pretende-se, igualmente, valorizar a memória na construções dos processos de
pertencimento das comunidades de terreiro do Rio Grande do Norte e o combate ao
racismo e todas as formas de preconceito e discriminação.
Arquivo Afro-Religioso é um projeto de pesquisa e extensão,
coordenado pelo Professor Luiz Assunção e registrado no Grupo de Estudos
Culturas Populares e Religiosidades (Departamento de Antropologia/PPGAS) –
UFRN, construído em parceria com o GAMA – Grupo de Articulação de Matriz
Africana e Ameríndia e demais parceiros institucionais, o Laboratório de
Restauração e Conservação de Documentos (Departamento de História) e a Gerência
de Redes CCHLA, ambos da UFRN. Chamamos atenção para a participação das
comunidades tradicionais de terreiro nesse processo, parceiros fundamentais na
participação e continuidade do projeto.
A concepção e execução estão formadas pelas
equipes de Edição e Curadoria e de Pesquisa, compostas por religiosos/as de
comunidades tradicionais de terreiro, alunos/as e professores/as de
instituições internacionais (Portugal, França) e brasileiras (UFRN, UERN, IFRN,
UNILAB, UFBA).
O projeto Arquivo Afro-Religioso, em sua abertura, apresenta o registro
documental de duas casas religiosas: o Centro Humilde de Caridade São Lázaro (babalorixá
José Barroso) e a Cabana Umbandista Pai Joaquim de Angola (babalorixá José
Clementino), ambas abertas na primeira metade da década de 1960. A proposta é inicialmente
apresentar o registro documental das casas abertas durante esse período, de
modo a tornar visível a significativa memória de mães e pais, e suas
comunidades, que construíram a história das religiões afro-brasileiras em
terras potiguares.
ARQUIVO AFRO-RELIGIOSO na imprensa
domingo, 19 de janeiro de 2025
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
A Jurema merece respeito
Foi com esta frase que fechamos o
documentário Catimbó-Jurema, da série
Êxtase Ritos Sagrados – Programa Fantástico, TV Globo 2005. Vinte anos depois, ainda
precisamos repeti-la, apesar do direito constitucional (Artigo 5º da
Constituição Federal de 1988).
Mais de uma década depois da apresentação
do referido programa, exatamente em 2018, Pai Freitas (Severino Willian
Freitas), sacerdote dirigente do Terreiro de Jurema Mestre Benedito Fumaça, organiza
o primeiro “Encontro de Juremeiros de Natal”, e, nos anos seguintes
(2019-2024), será acolhido pela Fundação Cultural Capitania das Artes, em sua
política de abertura para a diversidade cultural. Uma jurema foi plantada e o
território passou a ser considerado sagrado pela comunidade juremeira de Natal.
A Jurema Sagrada, como é denominada pelas
comunidades religiosas, se refere a um complexo de concepções e representações
da tradição indígena vivido através de um processo de circulação, trocas e
transformações, presentes na religiosidade nordestina, sobretudo no âmbito das
religiões afro-brasileiras e comunidades indígenas.
No caso potiguar, a Jurema Sagrada é
reconhecida, em 2024, pelo Governo do Estado como patrimônio religioso e
cultural imaterial (Lei Estadual da Deputada Divaneide Basílio) e registrada no
calendário oficial de Natal (Projeto de Lei 35/2022, de 16/02/2022, da
Vereadora Brisa Bracchi), que inclui o dia municipal do juremeiro e das religiões
afro-ameríndias, a ser celebrado na data de 20 de janeiro. Ainda tomando os
aspectos normativos, o Estatuto da Igualdade Étnico Racial (Lei Estadual
11.284/2022, no Artigo 15, define que “o Poder Público deverá incentivar a
celebração das datas relacionadas às personalidades, eventos comemorativos e
bens culturais de natureza imaterial que dizem respeito à promoção da igualdade
étnico-racial” (Dantas, 2024, p. 5).
Portanto, amparo com base na cultura e/ou
no dispositivo legal para justificar a realização do evento e, ressaltamos, em
um espaço cultural público, existe. No entanto, a tradição foi interrompida e a
saída foi construir articulação em busca de outro espaço.
Nesse domingo passado (12/01), o VIII
Encontro de Juremeiros de Natal, foi realizado na Pinacoteca do Estado do RN
(Palácio da Cultura). Mulheres, homens, crianças, se fizeram presentes, individualmente
ou em grupo, vindas de diversos bairros da cidade para celebrar a fé e a
cultura. A pé ou de automóvel, paramentados com suas indumentárias, cores, contas
e demais símbolos que expressam a vida e a força da existência. Alguns grupos
portavam vestimentas iguais em que se sobressaía à cor e a camiseta com o nome
do terreiro a que estavam ligados. Eram muitas as frases escritas que
reportavam a tradição, como “Jurema, ciência nobre” (frase de seu Geraldo do
Caboclo para o CD Pontos de Jurema, 2008).
O ponto de abertura da Jurema foi
cantado, dando início a roda de Jurema ao som dos atabaques e marracas e dos
pontos cantados para os caboclos e mestres da Jurema. Na sequência, como nos
anos anteriores, foram prestadas homenagens as pessoas ligadas à religião e a
cultura. No encontro atual, o destaque foi para as mulheres homenageadas,
mulheres que dedicaram sua vida a religião – senhoras mestras da jurema, com a
entrega do certificado de honra ao mérito. Na organização das atividades não
faltou à feirinha de artesanato, comidas, bebidas e as apresentações artísticas,
como a Banda Nêgo Zâmbi e o Coco Juremado RN As Flechas.
Ao longo desse percurso de luta, o
Encontro e a Jurema foram ganhando visibilidade, incorporando a presença de demais
pessoas da sociedade, àquelas consideradas simpatizantes, como as inseridas na
categoria de turista; ocupando positivamente as páginas dos jornais impressos,
virtual e os espaços da televisão.
É fundamental destacar que a presença das
religiões afro-brasileiras no espaço público é de certa forma recente e precisa
ser compreendida como parte do contexto das políticas públicas do governo
federal, a partir de 2003, em seu foco na inclusão e diversidade cultural e a
possibilidade de organização de um campo coletivo de ação e luta pelos direitos
constitucionais.
O Encontro de Juremeiros existe. Um
existir como ação, em forma de resistência – como a planta jurema em época de
seca. Resistência que se faz com e entre as comunidades (no plural), com os
diversos parceiros desta caminhada, com os mandatos políticos que somam, desde
o princípio, e, não teme dizer de que lado está. O Encontro de Juremeiros de
Natal continua em memória, ancestralidade, rumo às comemorações de uma década
de afetos e conquistas.
sábado, 11 de janeiro de 2025
Vila de Ponta Negra - Exposição Fotográfica
Recebo o carinhoso convite encaminhado por Mãe
Hosana da Vila de Ponta Negra, para a abertura da exposição fotográfica que
acontece hoje, sábado (11/01), às 17 horas, no Conselho Comunitário de Ponta
Negra.
“Vila de Ponta Negra: Retratos da vida e da esperança”, exposição organizada por Jean Charles Pastori e Flávio Aquino reúne imagens de pessoas da comunidade local, entre os quais mestres da cultura popular e membros da casa de Jurema de Mãe Hosana, o Centro Espírita do Mestre Junqueira, localizado na Travessa Manoel Lelé, 7. A produção executiva da exposição é de Porangueté.
Exposição. Mestre Correia dos Congos
Conselho Comunitário de Ponta Negra
Rua Ver. Manoel Coringa de Lemos, 452, Vila de Ponta Negra -
Natal/RN
A mostra segue aberta à visitação até o dia 08/02/2025, no horário
de 14-18 horas.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Janeiro começa com o Encontro de Juremeiros de Natal
domingo, 29 de dezembro de 2024
Caminhar
À hora é de caminhar, seguir em frente ao encontro do bom tempo. Esperançar boas mudanças. Traço as rotas e roteiros possíveis. Faço escolhas, mantenho o afeto. Quero a vida com o sabor da paixão, meus amores e os amigos. As correntes do vento nordeste já foram despachadas para os seus devidos lugares. Rituais são vividos. A poeira deixada nas estantes está sendo retirada. Rasgo papéis. Organizo as fotografias. Seleciono os livros que seguem comigo.
Um ótimo Ano de 2025!
terça-feira, 24 de dezembro de 2024
O Rio de Iemanjá
O Rio de
Iemanjá. Um olhar sobre a cidade e a devoção é o título do livro de Joana
Bahia, professora do Departamento de Antropologia da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ), lançado recentemente pela Editora Telha.
A publicação é resultado de trabalho de
pesquisa no qual acompanha histórica e empiricamente a presença de Iemanjá e a
sua devoção na cidade do Rio de Janeiro. Ao percorrer os caminhos de Iemanjá
(“o caminho das flores”), olha atentamente para a cidade e tece significativas
reflexões sobre a história das religiões afro-brasileiras, sua presença na
cidade, no espaço público e os conflitos que acompanham esses contextos.
No final da introdução, em que expõe os
principais pontos de sua pesquisa e reflexões, a autora escreve: “Seguir o
caminho das flores nos evidencia um sagrado constituído não apenas no interior
dos terreiros, mas que pode ser sacralizado em outros espaços. Não apenas o
sagrado dos templos e das igrejas podem construir espaços para onde a cidade
cresce, mas o mágico, o mediúnico pode transformar as paisagens e os corpos
urbanos”.
O livro foi concebido como uma cartografia. Uma
cartografia da presença e da memória: “os guias, orixás e encantes e outros
tipos de espíritos são os caminhos, pelos quais podemos reconstruir essa
cartografia”. O processo de pesquisa está focado no sentir os muitos fragmentos
da vida na cidade (“os corpos, mercados, a direção da linha do trem, os
aterros, praias, encruzilhadas, festas”), mas igualmente com a mesma
intensidade em que percorre a cidade, a autora realiza entrevistas com líderes
religiosos, pais e mães de santo de umbanda e candomblé, procede a leitura e análise
de jornais das décadas de 1940-1950 e o registro fotográfico.
O livro está organizado em treze capítulos em
que temas e questões se cruzam, entre as quais, como a devoção à Iemanjá é
produzida na cidade, as representações e a ocupação dos grupos afro-religiosos
desde o final do século XIX; a formação do campo umbandista, suas diferentes
visões e modos de cultuar Iemanjá; a expansão das religiões afro-brasileiras entre
1940 e 1970, crescimento, novas lideranças e disputas internas. A relação do
movimento negro com o universo religioso e as políticas de promoção das
identidades negras. As muitas festas, inclusive as recentes, que evocam o culto
a Iemanjá, como a da Glória, aquelas organizadas pelo Mercadão de Madureira,
Afoxé Filhos de Gandhi, entre outras. A produção de novas formas de
intolerância religiosa em um contexto marcado pelo conservadorismo social e
político.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
NOSSO AXÉ LEGAL
Informe encaminhado pela REDE DE MULHERES DE AXÉ:
“Conforme a lei 3.193 de 1957, parágrafo 31,
artigo V, letra B da constituição federal, “que isenta de imposto templos de
qualquer culto...”. Sendo de direito de todos os cultos religiosos, mas de fato
mesmo sendo tradições seculares no Brasil, esse direito nunca foi alcançado
pelos terreiros de tradições afroameríndias (Jurema, Candomblé e Umbanda, entre
outros). São poucos com acesso à informação e/ou alcançando em benefício
individual. Desse modo, cabe uma ação civil pública de interesse coletivo. São
muitos os templos de religiões tradicionais com débitos referentes ao IPTU, em
especial pelo valor acima do imóvel, não especificando as condições de moradia
e uso, residente na periferia, com inúmeras situações de infraestrutura
precárias, desse modo, convocamos aos interessados e as interessadas a mover
ação coletiva em benefício dos templos e comprovar a necessidade de atendimento
junto ao poder público para isenção do IPTU. Para tanto, mobilizados os
terreiros trataremos das questões legais para os procedimentos jurídicos.
Veja a lista de terreiro da cidade do Natal,
caso esteja cadastrado entre em contato e caso não esteja se cadastre com Mãe
Maria Rita (84) 998229930, informe os dados para maiores informações sobre a assembleia”.
Atenciosamente,
Rede de Mulheres de Axé
Coordenação
Potiguar.
sábado, 30 de novembro de 2024
Dahomey
Dahomey [Benim,
França, Senegal / 2024 / 68 min], filme-documentário
dirigido pela cineasta franco-senegalesa Mati Diop traz a questão da pilhagem
praticada no Daomé (atual República do Benim) pelas tropas coloniais francesas
em 1892. Ao acompanhar o retorno (2021) de 26 tesouros do Reino do Damoé, expostas
no Museu Quai-Branly (Paris) para o Benim, coloca a questão dos artefatos
saqueados durante a colonização européia no continente africano e o processo de
luta pelas comunidades africanas pelo seu repatriamento e que atitude tomar
perante o regresso a casa destes antepassados. Entre as peças devolvidas estão estátuas
dos antigos governantes do Daomé, Rei Béhanzin, Rei Ghezo e Rei Glélé, o trono real
e altares cerimoniais. O documentário ganhou o Urso de Ouro de melhor filme do
Festival Internacional de Cinema de Berlim 2024.
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Uma cidade desconhecida sob o nevoeiro
Quando viajo, gosto de organizar uma
agenda para ver o que está a acontecer na programação cultural local. Em minha
recente e rápida estadia em Barcelona, Espanha, não foi diferente. Após participar
de atividade acadêmica na Universidade de Barcelona, o roteiro traçado incluiu conhecer
o Museu de Arte Contemporânea (MAC BA). Foi fácil localizá-lo, estava muito próximo,
uma edificação moderna, três grandes pavimentos, imponente, ao lado de uma
praça de chão livre em que jovens fazem acrobacias no skate, naquele final de
tarde fria.
São várias exposições, como indica o
catálogo, e procurei seguir o roteiro, com calma, a procurar entender a
concepção, expografia, apreciar a estética, a simbologia dos elementos
presentes e procurar compreender as mensagens, aprender com os processos
criativos.
“Uma cidade desconhecida sob o nevoeiro.
Novas imagens da Barcelona dos bairros” é o título da exposição que se
encontra no terceiro pavimento do museu e que tem como foco uma espécie de
prospectiva sobre a cidade de Barcelona, ao tomar a periferia da cidade como zona
inovadora, onde se manifestam as tendências emergentes da urbe. Mas é também
espaço de questões sociais, conflitos, sobrevivência. O projeto da exposição se
divide em treze partes, com diferentes abordagens de pesquisa, uso de
fotografias e imagens audiovisuais em formato de filme ou vídeo.
Gostaria de destacar a parte de número
12: Raquel Friera +
Creadoness. “But Na But” [Això era i no era], 2023-2024 | Martha Rosler. “House Beautiful: Bringing the War Home, New Series”
[House Beautiful: portar la guerra a casa. Nova sèrie], 2004-2008 [selecció]. Cito as referências do programa:
“Trabalho comunitário com o coletivo
Creadoness del Raval - um programa que oferece formação em técnicas de costura
a mulheres migrantes vulneráveis - e a artista Raquel Friera. Neste caso, o
projeto assume a forma de um workshop de brocados com um grupo heterogêneo de
mulheres refugiadas do Afeganistão, que denunciam as experiências traumáticas
que viveram e exigem o direito à educação feminina. Os brocados, pintados sobre
os vestidos brancos característicos das estudantes afegãs, dialogam com
fotomontagens de Martha Rosler. A reflexão de Rosler sobre o trabalho doméstico
e as ideologias implícitas no gênero está na origem deste workshop”.
Para saber mais:
Museu de Arte Contemporânea de
Barcelona:
Arquivo Afro-Religioso
https://arquivoafroreligioso.cchla.ufrn.br/
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Em 1864, dois anos após a extinção dos aldeamentos indígenas na freguesia de Alhandra, inicia-se a medição e demarcação das terras indígenas...
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A mesa é a principal cerimônia ritualística da Jurema, realizada em sessões reservadas de consulta ou durante as festas públicas de consagr...