Alguns setores ditos evangélicos
declaram guerra à novela Salve Jorge
da TV Globo. Alegam que o enredo é uma adoração ao orixá Ogum, sincretizado com
o São Jorge da Igreja Católica. Uma dessa seitas, auto-intitulada evangélica,
pede que seus seguidores não assistam Salve
Jorge e sim, assistam à reprise da novela “Rei Davi”, que reestreou no
mesmo dia, quando a Globo alcançou 35 pontos no Ibope. A TV Record, amargou
ínfimos 6 pontos.
Uma dessas seitas acusa São Jorge
de ser um “deus pagão travestido de santo” e que “Davi, sim, é um herói
verdadeiro” e que “os fiéis não podem aceitar em suas casas algo que contrarie
a sua fé”.
É óbvio que o tema da novela não
é São Jorge, e, sim, do mito do guerreiro, o padroeiro da cavalaria
representado na novela pelo ator Rodrigo Lombardi, que sendo devoto dele, pede
proteção a cada ação.
Então, por que essa reação
raivosa de um determinado segmento religioso, já que a novela não é uma
homenagem nem à São Jorge, e muito menos à Ogum?
Aparentemente, pode parecer mais
uma reação fundamentalista de fanáticos religiosos contra a Umbanda, que tem em
Ogum um de seus mais importantes ícones. Mas... se a novela se chamasse “Salve
Jerônimo” ou “Salve Sebastião”? A reação seria idêntica porque não se trata de
religião. Essa é uma interpretação precipitada. É muito menos um ataque
fanático-religioso, e muito mais uma preocupação econômico-financeira.
Explico. Nada dá mais lucro a uma
emissora de televisão do que novelas. Nada supera
esse segmento. Não há BBBs,
humorísticos, reportagens, noticiários, esportes, musicais, nada, absolutamente
nada que se compare às novelas em matéria de resultado comercial. Por isso, as
emissoras não economizam dinheiro quando produzem seus capítulos, levando para
até para o exterior seus atores e equipes de cinegrafistas.
De acordo com a Forbes, a TV
Globo quebrou um recorde comercial com “Avenida Brasil”, conseguindo vender
cotas comerciais de 30 segundos por R$ 800 mil para o último capítulo! Imaginem
isso: 800 mil reais por 30 segundos!
Ao todo, a TV Globo faturou cerca
de R$ 2 bilhões, sendo que a produção de 180 capítulos da trama teria custado
algo em torno de R$ 91 milhões. Um lucro de 1 bi e 900 milhões de reais!
Em menor escala, o sucesso da
trama infantil “Carrossel” do SBT está com uma previsão de lucro de R$ 100
milhões de reais em 12 meses. Depois de “Avenida Brasil” e agora, de “Salve
Jorge”, é a novela de maior audiência da TV brasileira.
E “Carrossel” não fatura apenas
em comerciais por causa da alta audiência. Fatura ainda na venda de cerca de
cem produtos licenciados da novela que vão desde bonecos, álbum de figurinhas,
fantasia, kit festa de aniversário até aplicativos com jogos educativos para
tablets.
O fracasso da audiência da
reprise da novela “Rei Davi” se reflete, é claro, no faturamento da emissora,
que vem amargando quedas constantes de audiência. O “Programa do Gugu” vem
sendo derrotado pelo SBT aos domingos. As novelas “Rebelde” e “Máscaras” não
atingiram a audiência desejada e ficam longe da vice liderança atualmente
conquistada pela emissora de Silvio Santos.
Por isso, é importantíssimo
identificar o que se esconde atrás desses ataques à novela da Gloria Peres. Não
se trata de uma guerra religiosa. Não! Trata-se de uma guerra comercial, onde o
lado que esperneia amarga prejuízos incalculáveis, obrigando seus proprietários
até a venderem seus ativos para segurar a sangria financeira.
Outra guerra religiosa,
disfarçada, vem acontecendo nos bastidores das seitas auto-intituladas
evangélicas. Seitas que antes enchiam o Maracanã arrecadando fortunas de seus
fieis, acabaram perdendo seus seguidores para outras seitas formadas por
dissidentes que também se auto-nomearam “bispos”. Parafraseando o ditado
popular de que tem mais cacique do que índio, hoje tem mais “bispo” do que
fiel...
Em outras palavras: perderam
audiência e perderam fieis que ajudavam a manter sua estrutura. Estamos falando
de muito, muito dinheiro (recordando: um comercial de 30 segundos chegou a ser
vendido por 800 mil reais!).
Salve Jorge deve
repetir o sucesso de “Avenida Brasil”.
Por várias razões. Porque a autora é uma craque. Porque a produção é
esmeradíssima (as cenas na Turquia são belíssimas). Porque os atores são
consagrados e queridos. E o mais importante: porque o brasileiro ama - e
idolatra sim -, São Jorge, o mesmo São Jorge que é cultuado pelos seus devotos
às 6 da manhã todo dia 23 de abril, e saudado à noite como Ogum nos terreiros de Umbanda.
Salve Jorge! Salve São Jorge!
Salve Ogum!
Salve a diversidade religiosa brasileira!
(Átila Nunes e Átila Alexandre
Nunes)
atilanunes@emdefesadaumbanda.com.br
ótimo texto.
ResponderExcluirA Record está estagnando mesmo.