quarta-feira, 4 de setembro de 2013

“Sou juremeiro, mas adoro o caboclo”

Faleceu, aos 96 anos de idade, Geraldo do Caboclo (Geraldo Alexandre do Nascimento).

Natural de São José do Mipibu, mudou-se para Natal ainda bem jovem e durante muitos anos trabalhou como feirante. Na religião, dedicou-se ao caboclo e gostava de ressaltar: “sou juremeiro, mas adoro o caboclo”. Mantinha em casa sua mesa de jurema; cultuava suas entidades. Atendia aqueles que o procuravam para aplacar sofrimentos ou resolver problemas vividos.  Gostava de dizer que esse tinha sido um recado recebido, “trabalhar sozinho”, não pertencer a nenhuma casa.  

Conheci seu Geraldo na casa de Babá Karol. Ele estava sempre lá nos dias de rituais. Sua voz forte ajudava na cantiga dos pontos. Em 1991 fiz uma gravação com ele, em fita K-7, na qual ele fala de sua entrada na religião, o que pensa sobre Jurema, lembra dos juremeiros antigos de Natal e da região de Canguaretama, fala de seu amor pelos caboclos.  

Quando surgiu a oportunidade de organizar o CD “Pontos de Jurema”, em 2008, a ideia foi oportunizar uma homenagem aos velhos juremeiros, entre eles: seu Geraldo do Caboclo, Babá José Clementino, seu Geraldo Guedes e Babá Karol, embora esses dois últimos já estivessem com problemas de saúde. Seu Geraldo do Caboclo estava com idade avançada, mas bastante lúcido. Estava morando em um sítio, na região dos Guarapes, entre os municípios de Natal e Macaíba. Consegui seu endereço e lá estive por quatro tardes, fazendo as gravações e conversando bastante.  

Seu Geraldo do Caboclo faz a abertura do  CD “Pontos de Jurema”. É ele que com muita sapiência fala que a “Jurema é uma ciência fina”. Ele é o fio que conduz a realização das gravações. Dele ouvi um dos pontos mais bonitos em todos esses meus anos de pesquisador – o ponto de Candeinha. 

Dou adeus a Candeinha
Que Candeinha chegou
Filha de Rei de Mina
Neta de Rei de Nagô
Adeus, Candeinha, adeus
Só adeus, que eu já me vou
No tombo do mar, eu vim
No tombo do mar, eu vou

Ê, meu pai está me chamando
Ê, meu pai, eu já me vou
Um rico tambor me chama
No tombo do mar eu vou

Adeus, Candeinha, adeus
Só adeus, que eu já me vou
No tombo do mar eu vim
No tombo do mar eu vou


Adeus seu Geraldo.

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