Comparativamente à maioria dos professores universitários, sou um grande viajante. Mesmo assim, as algumas centenas de milhares de quilômetros que percorri na Terra são bem pouco em relação ao que sonhei na minha infância! Por motivos materiais, comecei a viajar muito tarde. Mas pouco importa: as viagens que se multiplicaram na minha idade madura satisfaziam uma necessidade muito profunda do meu eu nômade; além disso, uma relação profunda deve existir para mim entre elas e o ensino: talvez a mesma relação que há, no plano da escrita, entre meus trabalhos eruditos de caráter histórico e a ficção. Eu poderia ainda me perguntar: não há uma ligação direta entre viagem e ficção? Sou tentado a responder afirmativamente. Assim, observo, de uma viagem a outra, curiosas mudanças de comportamento: ou tomo notas cada dia, ou levo um diário, tiro fotos; outras vezes não o faço senão de maneira irregular e parcial; outras vezes, absolutamente nada. Com o correr dos anos, o absolutamente nada é o que se impõe. Não é este o indício de que alguma coisa se recusa a que a viagem se torne o substituto do que quer que seja, em todo caso, o substituto do lugar onde se está? O indício de que uma convicção se faz clara: a viagem deve manter-se puro nomadismo? Ora, é em nome disso que a viagem habita em mim, depois de vinte anos, a ficção... e inversamente.
Paul Zumthor – Escritura e Nomadismo
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