Acabo de chegar de João Pessoa, Paraíba. Fui participar da banca examinadora da dissertação de mestrado de Roncalli Pinheiro, no Programa de Pós-Graduação em Linguística, da UFPB.
A dissertação intitulada “São Jorge: performance nômade de uma voz entre Europa, África e Brasil nos terreiros afro-pessoense”, procura descrever as relações interculturais existentes na expressão religiosa de São Jorge para compreender este personagem mítico multifacetado, multireligioso e multilinguístico. Toma como campo de análise as relações territoriais entre Ogum na África, São Jorge em Portugal; a leitura da performance do sujeito em rituais de Umbanda, em João Pessoa; as linguagens verbais e visuais, como os pontos cantados nos terreiros e a fotografia de Pierre Verger.
A pesquisa empírica foi realizada em dois espaços religiosos da cidade de João Pessoa: o Terreiro Nossa Senhora do Carmo, bairro da Torre, e o Terreiro de Candomblé Kwe Ceja Azirin, no bairro de Valentina. As duas casas são descendentes do Centro de umbanda Ogum Toperinã, de Pai Valdivino. A primeira casa foi fundada em 1973, sob a liderança de Mãe Maria dos Prazeres, enquanto a segunda teve seu início em 1989 sob a liderança de Mãe Edite.
Foi lançado neste sábado, dia 28, no Ilê Asé Omi Lesi, Lauro de Freitas, Bahia, o Mapa da Intolerância Religiosa - Violação ao Direito de Culto no Brasil, com a presença do autor, Marcio Alexandre M. Gualberto e da Yalorixá Jaciara de Oxum, filha carnal de Mãe Gilda, que faleceu em decorrência de uma intolerância religiosa por ela sofrida e que motivou a criação do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
O Mapa da Intolerância Religiosa - Violação ao Direito de Culto no Brasil, que conta com o apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE), é a primeira sistematização, em nível nacional dos casos de intolerância religiosa ocorridos no país nos últimos 10 anos. Além do caso de Mãe Gilda de Ogum, o Mapa traz casos de intolerância religiosa contra católicos, muçulmanos, judeus, entre outros grupos religiosos, o que demonstra que a intolerância religiosa ocorre no país inteiro e atinge aos mais diversos segmentos religiosos.
No entanto, segundo Marcio Gualberto, autor do trabalho, “é visível que há uma vítima preferencial de intolerância religiosa em nosso país, e essa vítima é o praticante das religiões de matrizes africanas tais como o Candomblé e a Umbanda”, sendo, portanto, estes os mais frequentes e, quase sempre, os mais graves casos de intolerância religiosa.
Segundo o autor, a proposta do Mapa não é apenas apresentar denúncias, mas mostrar o quanto se tem avançado no enfrentamento à intolerância religiosa. “No país inteiro as organizações do movimento social se mobilizam, os religiosos se articulam e pressionam o poder público a pôr um fim à intolerância religiosa, seja promovendo caminhadas, produzindo documentos, ou até mesmo chamando para o diálogo outras tradições religiosas para somar força. O que vemos é que a cada dia as pessoas se conscientizam que têm o sagrado direito de manifestar sua fé”, afirma Marcio Gualberto.
O Mapa da Intolerância Religiosa, além de sua versão impressa, terá um website para receber denúncias, encaminhá-las aos órgãos competentes nos estados, acompanhar os desdobramentos e também divulgar o que as organizações da sociedade civil e o Poder Público vêm produzindo para defender o direito de culto no país.
Faleceu nesta manhã de terça, 24, no Rio de Janeiro, o escritor Abdias do Nascimento. Poeta, político, artista plástico, jornalista, ator e diretor teatral, Abdias foi um corajoso ativista na denúncia do racismo e na defesa da cidadania dos descendentes da África espalhados pelo mundo. O Brasil e a Diáspora perdem hoje um dos seus maiores líderes.
Os homens se sentiam então muito poderosos, mas as mulheres, pela tradição, ainda os dominavam.
Naquele tempo de tantas transformações, as mulheres eram governadas por Iansã, guerreira destemida que conhecia o segredo do fogo e sabia como botar labaredas pela boca.
Um dia os homens decidiram tomar para si o poder e escolheram ogum para enfrentar Iansã e tomar para si o domínio que as mulheres controlavam.
Ogum, o Guerreiro, aceitou a missão e se vestiu com suas férreas armaduras de combate, couraça, capacete e caneleiras, e se armou de escudo, espada e lança.
Homens e mulheres viviam em mundos separados e não havia confiança nem solidariedade entre eles. As mulheres sempre se reuniam com Iansã numa clareira e ali passavam horas e horas falando mal de seus maridos e se divertindo com os castigos que a eles infligiam. Ali elas planejavam como assustar seus esposos, sempre que eles ameaçavam o poder feminino. Ejiologbom não soube explicar direito, mas disse que as mulheres, chefiadas por Iansã, tinham um macaco vestido de gente que assustava os homens, fazendo caretas e cenas admiráveis.
Pois lá estavam elas a conversar e a rir na clareira quando Ogum surgiu do meio do mato vestido para a guerra.
A aparência do Guerreiro era assustadora, pois não há neste mundo uma só pessoa que seja capaz de encarar a guerra de frente sem tremer.
Em pânico, as mulheres se puseram de pé e se dispersaram numa desordenada correria, fugindo em busca de proteção. Muitas correram tanto que nunca mais foram vistas por ninguém. Outras foram viver com os homens, dos quais receberam abrigo e proteção.
Iansã tentou resistir e foi vencida por Ogum.
Mas ele não usou a espada contra Iansã, ele se casou com ela.
Quando Ogum foi feito rei, ele fez Iansã sua rainha.
Desde então o poder pertenceu aos homens.
Mas sempre que Ogum saía para a guerra ele levava Iansã para lutar junto com ele.
Todos os homens gostam muito dessa história.
Naquele dia, na casa celeste de Ifá, os odus aplaudiram com frenesi a fala de Ejiologbom e Odi. E Ifá, que também é parte do gênero masculino, mandou servir no fim da sétima reunião um banquete muito mais sortido e caprichado.
Hoje quem manda no mundo são os homens e as mulheres têm lutado e continuam lutando muito para conquistar independência, para garantir seus direitos e ter as mesmas oportunidades que os homens.
Mas o mundo não foi sempre assim.
Na sétima visita dos dezesseis príncipes do destino ao palácio de Ifá, no Céu dos orixás, os príncipes Ejiologbom e Odi relembraram uma história que foi muito festejada por todos os odus, que apreciaram muito o seu desfecho.
No começo quem mandava no mundo eram as mulheres e os homens eram a elas totalmente submissos. Eram elas que faziam a política e decidiam o destino do mundo e da humanidade. Elas eram fortes, os homens eram fracos. Elas mandavam, eles obedeciam. Elas falavam alto, eles se curvavam.
Mas os homens eram muito curiosos e viviam inventando e descobrindo coisas. Ogum era um caçador que vivia na aldeia de Irê. Ele ensinou a arte da caça a seu irmão Oxossi, que foi viver na cidade de Queto, onde se tornou um caçador muito famoso por ter matado o pássaro agourento de uma terrível feiticeira. Um dia Ogum descobriu como usar o ferro e com ele fabricar muitos instrumentos que tornavam menos difícil a sobrevivência dos humanos.
E na sua forja ele fabricava enxadas e enxadões, picaretas e ancinhos, facas e facões, tudo o que era preciso para caçar e para cultivar a terra e assim mais fartamente poder alimentar o povo.
E os homens se transformaram em agricultores e o trabalho na terra deu força a eles, deu-lhes músculos de ferro.
Mais que isso descobriu Ogum. Descobriu que os objetos de ferro que ele fabricava tinham o poder de ajudar o homem a produzir bens, a plantar, a colher, a caçar, como vimos. Mas assim como a lâmina de ferro matava o bicho, o bicho que o homem caçava para dar de comer aos filhos, a lâmina de ferro também matava o homem. E o homem inventou a guerra e usou a espada de Ogum para dominar seu semelhante. Porque tudo na vida tem o lado bom e tem também o lado ruim. E os homens se transformaram em guerreiros e a guerra deu mais força ainda a eles, deu-lhes músculos de ferro, deu-lhes nervos de aço.
(Reginaldo Prandi. Os príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira).
II Encontro Nacional Mulheres de Axé Data: 17 e 18 de junho de 2011(sexta e sábado) Local: João Pessoa
Objetivos: qualificar a informações sobre as dimensões de gênero e raça nas políticas públicas de saúde, ampliar a participação das mulheres de terreiros nos espaços de decisão de políticas públicas, sensibilizar as lideranças femininas de terreiros para a mobilização e participação nas Conferências de Saúde e Conferência para as Mulheres.
Público: mulheres da tradição religiosa afro-brasileira, gestores e profissionais de saúde, gestores dos Orgãos de promoção de igualdade racial e das Políticas para as Mulheres.
Realização: Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde-GT Mulheres de Axé, Núcleo Paraíba da Rede Nacional Religiões Afro-Brasileirias e Saúde.
AVAAZ é uma organização que realiza campanhas pela internet em prol dos direitos humanos nas mais diferentes regiões do planeta. Segundo documento publicado recentemente, seu crescimento e as vitórias conquistadas são intensas. São mais de 8,2 milhões e semanalmente 100.000 pessoas são adicionadas ao movimento.
Alguns destaques das campanhas realizadas:
Financiado por quase 30.000 membros da Avaaz, uma equipe está trabalhando diretamente com lideranças dos movimentos pró-democracia na Síria, Iêmen, Líbia e em outros países para distribuir telefones de alto tecnologia e modens de Internet via satélite, conectando-os com com as maiores redes de notícias do mundo e ajudando com a comunicação.
21 horas depois de 317.000 pessoas unirem-se ao chamado para o Presidente da Hilton assinar o Código de Conduta contra a exploração sexual, ameaçando publicar anúncios nos jornais da sua cidade, nós recebemos uma ligação do seu vice-presidente. "Vocês vão fazer o que?!" ela perguntou. O Hilton estava enrolando a meses. Nós demos 4 dias para eles assinarem, e eles aceitaram. Agora, os 180.000 funcionários da Hilton serão treinados para identificar e prevenir o horror da escravidão sexual de mulheres e meninas.
A proposta usina de Belo Monte, uma catástrofe ambiental, está sendo atrasada em parte devido à forte pressão da sociedade -- incluindo uma entrega espetacular da petição por lideranças indígenas com mais de 600.000 nomes de brasileiros e pessoas ao redor do mundo. A Organização dos Estados Americanos se juntaram aos críticos da barragem, dizendo que ela viola direitos humanos -- gerando mais pressão pelo cancelamento do projeto e o investimento em energias verdadeiramente sustentáveis no seu lugar.
Cerca de 72 mil aderem à petição que critica Bolsonaro. Veja matéria do Estadão:
No Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, a Fundação Cultural Palmares (FCP) criou um selo para celebrar a data, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para difundir o compromisso mundial de lutar contra o racismo e pela inserção de negros e negras em todos os espaços de cidadania. Fruto de criação coletiva, a marca será usada em documentos e peças promocionais da instituição.
O selo comemorativo exprime o compartilhamento de objetivos da Palmares e da Organização das Nações Unidas, por meio da fusão de elementos de suas respectivas marcas. Ao abraçar a causa dos povos da Diáspora Africana, a ONU abraça também as instituições que por ela trabalham – o que o componente gráfico da marca criada pela Palmares procurou traduzir, com o entrelaçamento das duas simbologias.