Seleiro, s. Oficial que manufatura selas.
Sela, s. Arreio de couro curtido acolchoado, que forma assento onde monta o cavaleiro.
Seleiros afamados deixaram nome na memória dos criadores: mestre Florentino, Cazé e depois Antônio Italiano fizeram escola no Caicó dos nossos antepassados. Mais recentemente, o artesanato passado de pai para filho na família de Enéias do Logradouro (hoje nas mãos de Nilo, filho do mestre Almino) e Francisco Marinheiro (Sítio das oiticicas), ambos no Caicó. Quem deseja uma sela de boa qualidade, ainda hoje faz encomenda aos mestres de fama – como os de Caraúbas e Serrinha (Possidônio), o velho Pedro Ourives (1883-1964) ou nas ribeiras vizinhas do Brejo da Cruz (PB), na tenda de Antonino.
Arreios, s. Conjunto de peças, geralmente de couro curtido e metais, que formam as rédeas e cabeçada, destinados a dirigir o animal.
In: FARIA, Oswaldo Lamartine de; AZEVEDO, Guilherme. Vocabulário do criatório norte-rio-grandense. Natal: Fundação José Augusto, 1997.
Em fevereiro de 2006 quando fazia trabalho de campo na comunidade quilombola do Jatobá, em meio as minhas andanças pela cidade de Patu (RN) conheci seu Raimundo Seleiro, o único que continuava com a arte de manufaturar selas e arreios na região. Estive na sua oficina de trabalho, conversamos.
Raimundo Ferreira da Silva nasceu na cidade de Belém do Brejo (PB), em 1928. Estava com 78 anos de idade. Desde cedo aprendeu a trabalhar com couro, inicialmente vendo seu conterrâneo Raimundo Aragão trabalhar. Começou fazendo remonte, renovava selas, “endireitava as selas velhas”. Em 1956 quando foi residir na cidade de Patu, já dominando os conhecimentos da técnica, passou a trabalhar, “a ganhar a vida” como seleiro e demais peças de arreio. Fazia as feiras de Catolé do Rocha, Umarizal, Apodi. À medida que o comércio foi enfraquecendo, deixou de viajar, passando a trabalhar por encomenda ou produzindo algumas peças que encaminha para conhecidos venderem nessas cidades.
Em seu trabalho utiliza o couro (peles de animais) de boi, bode e carneiro. Existem dois tipos de couro: o couro natural e o couro preto. O primeiro compra na própria região e o outro vai comprar em Campina Grande. É necessário que o couro seja “curtido”, pronto para trabalhar.
O processo de trabalho é lento, chegando há durar até seis dias para confeccionar uma sela. Trabalho manual segue uma seqüência que se inicia pela montagem da armadura até a montagem e costura final, passando por etapas que inclui a lavagem, riscado, corte, costura das diferentes partes.
Em sua oficina contava com o apoio de três auxiliares, mas gostava de ressaltar que nenhum tinha o dom, a arte. E completava afirmando que seu fazer era uma arte, “porque não é todo mundo que sabe não; uma arte se aprende trabalhando”.
No meio daquelas nossas conversas, um dia sentenciou que sua arte se acaba com ele.
No ano seguinte, no meu retorno a cidade, tomo conhecimento da morte de seu Raimundo. A oficina tinha sido fechada.
Querido Luiz, uma pequena grande história. Mais uma vez agradeço sua generosidade em partilhar conosco essas preciosidades. As selas e esse universo da agropecuária me faz lembrar de minha infância, do meu pai, meus tios... Além do mais é um elemento marcante da nossa cultura, lembrei do romance de José Lins do Rego Fogo Morto que embora seja parte do ciclo da cana-de açucar, tem como um de seus personagens o mestre seleiro José Amaro.
ResponderExcluirPetrucia Nóbrega
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ResponderExcluirMestre Luiz, muito obrigado por comentar em nosso blogue! É uma grande honra para nós! E convidamos você para nos seguir e já linkamos o seu blogue no nosso! E o disco da Jurema, já saiu? Gostaria de um exemplar prá divulgar no blogue do acervo! Abraço!
ResponderExcluirObashanan
blogue http://acervoftu.blogspot.com
Luiz, pode nos mandar seu email? Aí mandamos prá você o endereço para você nos enviar o cd.
ResponderExcluirObrigado!
Obashanan