sábado, 10 de outubro de 2009

As meninas do Casarão de Poesia

Foi caminhando por entre blogs que outro dia encontrei a poesia das meninas do Seridó e depois entendi o quanto elas estão ligadas ao Casarão de Poesia. Elas vivem na cidade de Currais Novos, sertão potiguar. Iara Carvalho, Maria Maria, Luma Carvalho, Elina Carvalho. Cada uma, a seu modo, expressa em palavras, como escorrendo em dias de chuva, os sentimentos da vida, do amor, do cotidiano, da terra. Recolhi alguns dos seus escritos, como forma de homenagear a criação do Casarão – para que ele tenha vida longa.


Os escritos de Iara Carvalho:


Herança

há um sentimento indígena

no pouco passo que dou

no pouco tato que tenho:

vou sentindo oca

a raiz de que me lenho


CORAÇÃO EM FUGA

se quero precipícios

é porque de chuva

me visto

me ouso

me abuso

quero no vôo da vertigem

descobrir-me virgem e abismo

pedra e absinto

porque não me dói

o enigma da esfinge


Um banho

há de ferver

até convulsar

minha água interior

depois escorrer lírica

sobre papéis e silêncios


...

é um passado

um nome secreto bem

no meio do meu corpo:

o que não traduz,

persiste

o que contradiz,

descansa.



Os escritos de Elina Carvalho:

Sobre os filhos

Crescem escondidos

Colhem amanheceres e

Anoitecem brincando

Choram sobre nossos vestidos

E sem que nossos olhos se abram já estão indo embora...


vôo

Mira-me a borboleta do sonho
Afunda a beleza de sua cor sobre meus olhos encardidos
Circunda-me a explosão da liberdade
Pois que meus pés já nem tocam mais o chão.


...

flor etérea
cheiro selvagem
passagem de água
pluma afundada
beleza de escombros
aceita o vôo
sabendo da queda
asas de borboleta migram para seus olhos



Os escritos de Luma Carvalho:


sobre as contradições
pobre menina!
embora sonhasse com asas
tinha medo de borboletas...


 
...
pintei de vermelho carmim
e guardei no melhor de mim
no mais quente de mim
o instante que me entreguei a ti


 
...
de olhos vendados
hoje
a lua
nem flagrou minha alma nua


 

Os escritos de Maria Maria:


Sino tocando
em que ponto nervoso de carne
um corpo entende outro corpo?
onde não alcançam
alheios olhos
secretas grutas
se espantam
com sua própria escuridão.


O treinamento do poeta
Numa tarde,
pintada de amanhecer,
senti uma imensa vontade
de voar:
pássaros de outros tempos,
aves de pôr-de-sol.
No entanto,
ainda sou Dédalo
e comecei há pouco
a confeccionar as minhas asas.
À duras penas.


Iara Carvalho

(http://mulhernajanela.blogspot.com)

Elina Carvalho

(http://elina-carvalho.blogspot.com)

Luma Carvalho

(http://eoqueeapoesia.blogspot.com)

Maria Maria

(http://floresdoserido.blogspot.com)

 

2 comentários:

  1. Nossa, que honra o Casarão figurando em seu espaço!

    Ficamos muitos gratos e mui lisonjeadas!

    Esperamos que possa aparecer por aqui um dia, tomar um cafezinho debaixo desse telhado!

    Beijos...

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  2. Amigos do Casarão: o prazer foi todo meu poder colocar a poesia de vcs neste espaço. É grande a alegria por saber da existência do Casarão.
    Grato pelo convite. Quem sabe, um dia não terei a oportunidade de tomar um café com vcs conversando sobre nossos trabalhos.
    Abraço para todos,
    Luiz Assunção

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