Foi caminhando por entre blogs que outro dia encontrei a poesia das meninas do Seridó e depois entendi o quanto elas estão ligadas ao Casarão de Poesia. Elas vivem na cidade de Currais Novos, sertão potiguar. Iara Carvalho, Maria Maria, Luma Carvalho, Elina Carvalho. Cada uma, a seu modo, expressa em palavras, como escorrendo em dias de chuva, os sentimentos da vida, do amor, do cotidiano, da terra. Recolhi alguns dos seus escritos, como forma de homenagear a criação do Casarão – para que ele tenha vida longa.
Os escritos de Iara Carvalho:
Herança
há um sentimento indígena
no pouco passo que dou
no pouco tato que tenho:
vou sentindo oca
a raiz de que me lenho
CORAÇÃO EM FUGA
se quero precipícios
é porque de chuva
me visto
me ouso
me abuso
quero no vôo da vertigem
descobrir-me virgem e abismo
pedra e absinto
porque não me dói
o enigma da esfinge
Um banho
há de ferver
até convulsar
minha água interior
depois escorrer lírica
sobre papéis e silêncios
...
é um passado
um nome secreto bem
no meio do meu corpo:
o que não traduz,
persiste
o que contradiz,
descansa.
Os escritos de Elina Carvalho:
Sobre os filhos
Crescem escondidos
Colhem amanheceres e
Anoitecem brincando
Choram sobre nossos vestidos
E sem que nossos olhos se abram já estão indo embora...
vôo
Mira-me a borboleta do sonho
Afunda a beleza de sua cor sobre meus olhos encardidos
Circunda-me a explosão da liberdade
Pois que meus pés já nem tocam mais o chão.
...
flor etérea
cheiro selvagem
passagem de água
pluma afundada
beleza de escombros
aceita o vôo
sabendo da queda
asas de borboleta migram para seus olhos
Os escritos de Luma Carvalho:
sobre as contradições
pobre menina!
embora sonhasse com asas
tinha medo de borboletas...
...
pintei de vermelho carmim
e guardei no melhor de mim
no mais quente de mim
o instante que me entreguei a ti
...
de olhos vendados
hoje
a lua
nem flagrou minha alma nua
Os escritos de Maria Maria:
Sino tocando
em que ponto nervoso de carne
um corpo entende outro corpo?
onde não alcançam
alheios olhos
secretas grutas
se espantam
com sua própria escuridão.
O treinamento do poeta
Numa tarde,
pintada de amanhecer,
senti uma imensa vontade
de voar:
pássaros de outros tempos,
aves de pôr-de-sol.
No entanto,
ainda sou Dédalo
e comecei há pouco
a confeccionar as minhas asas.
À duras penas.
Iara Carvalho
(http://mulhernajanela.blogspot.com)
Elina Carvalho
(http://elina-carvalho.blogspot.com)
Luma Carvalho
(http://eoqueeapoesia.blogspot.com)
Maria Maria
(http://floresdoserido.blogspot.com)
Nossa, que honra o Casarão figurando em seu espaço!
ResponderExcluirFicamos muitos gratos e mui lisonjeadas!
Esperamos que possa aparecer por aqui um dia, tomar um cafezinho debaixo desse telhado!
Beijos...
Amigos do Casarão: o prazer foi todo meu poder colocar a poesia de vcs neste espaço. É grande a alegria por saber da existência do Casarão.
ResponderExcluirGrato pelo convite. Quem sabe, um dia não terei a oportunidade de tomar um café com vcs conversando sobre nossos trabalhos.
Abraço para todos,
Luiz Assunção