A Editora da UFRN está lançando o livro Os negros do Riacho. A pesquisa foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação
No início dos anos de 1980, quando decidi estudar os negros do Riacho, no município de Currais Novos/RN, praticamente nada existia escrito sobre eles, exceto as referencias feitas pelos historiadores nomeando as comunidades negras e uma reportagem jornalística publicada em um jornal local em que apresentava dados gerais e ressaltava o caráter de isolamento do grupo. Na cidade, os negros eram vistos de forma estereotipada, quase sempre como bêbados, perigosos e brigões. Essas noções também habitavam meu imaginário que desde jovem ginasiano acompanhava, de minha casa, com o olhar curioso, o vai e vem das pessoas do Riacho em minha rua, principalmente no dia da feira semanal. Chamava minha atenção o fato que andava em pequenos grupos de três ou quatro pessoas. Lembro de mulheres altas e magras com potes de barro sobre a cabeça e à tarde voltavam com sacos de mantimentos. Anos mais tarde, na escolha temática para a dissertação, não tive dúvidas: o campo empírico era a comunidade dos negros do Riacho e o objetivo, estudar seu modo de vida e o processo de construção identitária do grupo.
O trabalho concluído dava-me a certeza que era mais que uma reflexão acadêmica sobre o modo de vida, a luta pela terra, a construção e o sentido da identidade. A narrativa histórica e de vida dos negros do Riacho, agora textualizada, poderia contribuir através de uma ação educativa para a desconstrução das noções estereotipadas sobre o grupo, além de abrir o fio na lacuna existente para o conhecimento das comunidades negras no estado do RN.
O trabalho proporcionou imediatamente ações institucionais: a primeira, se deu através de encontros pedagógicos com professores da rede municipal de ensino de Currais Novos, em que os resultados do estudo foram apresentados e discutidos com o grupo docente, visando à transferência dos conteúdos para o espaço escolar. A idéia de que o conteúdo pudesse ser trabalhado pelos professores de forma transversal, perpassando disciplinas, não teve continuidade, limitando-se aquele encontro com os professores. Vieram outras ações: da igreja católica local, do Estado, movimento social, igreja protestante, etc.
Apesar dessas interferências, a comunidade do Riacho segue o seu cotidiano de miséria social, em busca da sobrevivência, enfrenta os preconceitos da sociedade envolvente, aprimora suas relações e alianças assistenciais e paternalistas.
Mais tarde, pesquisadores se voltam aos negros do Riacho para refletir sobre a cultura, as condições sócio-econômicas e a história. Seguindo os rastros de minha pesquisa, estes estudos reafirmam o interesse empírico e a importância da reflexão sobre questões que envolvem as comunidades negras rurais em um mundo branco. No entanto, somente em 1994 é que vai circular uma versão, em formato artesanal, de minha dissertação sobre os negros do Riacho, promovida pelo setor de reprografia do CCHLA da UFRN.
A terra do Riacho, correspondente a menos de quatro hectares, é seca, coberta por pedregulhos e tabuleiro, dificultando sua fertilidade. Apesar das condições dadas pela natureza algumas roças para alimentação são mantidas durante o curto período do inverno, ficando as pessoas, durante o restante do ano, disponível para o trabalho alugado ou entregues a sorte da política publica assistencial.
A população tem crescido, estando atualmente em torno de 150 pessoas, predominando uma população jovem. O crescimento demográfico, a inexistência de terras apropriadas para agricultura, somados à falta de recursos financeiros para implementação de atividades que visem a sustentabilidade das unidades familiares e, consequentemente, do grupo, tem como conseqüência o abandono de atividades na agricultura, o assalariamento do trabalho e o crescente número de uma população jovem sem ocupação. Pensar a questão da terra é fundamental por sua implicação com a reprodução destas famílias. É necessário ressaltar que, vinte anos depois, a reprodução social do grupo continua dramática.
Mas a terra não é somente fator de produção, ela é, ao mesmo tempo, um bem social para a reprodução física e um espaço de construção da cultura. Nela os seus ocupantes plantam, criam, coletam, caçam, organizam festejos, desenvolvem rituais, brincam e estabelecem relações sociais que vinculam os indivíduos entre si e dão sentido de pertencimento aos seus ocupantes.
O que é ser negro do Riacho e o viver nas terras do Riacho parece continuar instigando em busca da compreensão dos contextos produzidos nas relações entre brancos e negros na sociedade brasileira.
Querido Luiz, você está a todo vapor. Guarde um exemplar desse seu livro para mim!!!
ResponderExcluirAqui no Sul da França o vento mistral mostra sua força e me embala na leitura dos derradeiros cursos de Merleau-Ponty no Collège de France.
Um abraço com saudades e muita admiração pelo seu trabalho
Petrucia Nóbrega
Petrúcia: que bom saber suas notícias e que td tá indo bem aí. Aproveite os cursos e o que o mundo acadêmico pode oferecer. Vc merece! Qdo vc chegar entrego teu exemplar dos "Negros do Riacho". Seu estímulo chega em boa hora. Forte abraço e minha amizade. Luiz.
ResponderExcluirÔ coisa boa!
ResponderExcluirRealmente sentimos falta de um estudo mais detalhado sobre os Negros do Riacho, um grupo ainda pouco conhecido em suas manifestações.
Eu, enquanto currais-novense, sinto-me feliz por eles, na certeza de que um estudo dessa natureza contribuirá, além de vários outros motivos, para desconstruir certos estigmas ainda existentes.
Parabéns pelo trabalho e um grande abraço!
P.S.: Caro Luíz, o Ponto de Leitura Casarão de Poesia tem muito interesse em adquirir um exemplar desse livro para o seu acervo... ainda não temos nada relativo à história de Currais Novos, quiçá aos Negros do Rosário. Gostaríamos de disponibilizar este estudo à comunidade. Como fazemos?
Iara: prazer de ter seu registro aqui no blog. Fico feliz pela visita. Pois é, esse trabalho sobre os negros do riacho é tb uma forma de contribuir para a história de Currais Novos. Terei o maior prazer em enviar um exemplar desse livro e mais outros que publiquei, para compor o acervo do Casarão. Aguarde que estarei enviando. Grande abraço, Luiz Assunção
ResponderExcluirolá Professsor Luiz. Sou Cantora Potiguar mas moro em Curitiba ja tem 6 anos...preciso conversar com o senhor sobre uma pesquisa que estou começando pra um show sobre o Jacinto Silva, canto e compositor de Coco.
ResponderExcluiro Josenilton Tavares de NAtal foi quem me indicou o senhor.
Também estou pesquisando a vida e a obra de Jackson do Pandeiro e Bezerra da Silva que se intitulava Rei do coco quando chegou no Rio de Janeiro.
aguardo seu contato.
meu e-mail é cidairam2@yahoo.com.br
grande abraço !!!!