Tinha acabado de chegar a minha sala de trabalho na UFRN, liguei o computador e estava lendo meus e-mails, um deles trazia informações sobre a aprovação da proposta de tombamento do Sítio Acais, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba - IPHAEP. Estava vibrando com a notícia pela possibilidade de permanência do conjunto arquitetônico pertence à Maria do Acais, pelo que isso pode vir a representar no imaginário religioso, na auto-estima e identidade de juremeiros, umbandistas e demais praticantes das religiões afro-brasileiras, em especial da região Nordeste. Mas mais que isso, por essa conquista ser fruto de um movimento levado adiante por um grupo de pessoas ligadas, de alguma forma, seja como praticante ou simpatizante, a religião afro-brasileira.
Ainda embriagado por este diálogo virtual, escuto alguém bater na porta da sala. Peço para entrar. Um rapaz moreno, magro, de estatura baixa, abre a porta e pergunta se sou o professor Luiz. Diante de minha afirmativa, vai imediatamente falando que gostaria de saber algumas informações sobre Maria do Acais. Surpreso, olho para ele e pergunto: como? Ele confirma que veio conversar comigo porque gostaria de saber mais informações sobre o Acais. Peço para ele se sentar. Indago se ele é da religião. Responde que sim. Pergunto de qual terreiro. Afirma ser da casa de Magnus das Quintas. Digo que tenho boas informações de Magnus, inclusive que alunos meus já estiveram em seu terreiro, mas que nunca tive a oportunidade de ir lá. Começamos a conversar, ele ressalta o parentesco de Magnus com Pai Rivaldo (da Cidade da Esperança) e lembro-me do prazer de tê-lo conhecido e de ter freqüentado sua casa.
Voltamos a falar do Acais e de Maria; sobre a história da célebre catimbozeira de Alhandra; seus parentes, a forma de trabalho. Pergunta sobre as fotos que publiquei no blog e ressalta que leu o que escrevi sobre Maria e sobre a jurema, deixando perceber que conhece meu trajeto acadêmico. Olha para algumas imagens que estão na estante e identifica Mestre Carlos. Interroga sobre a possibilidade de um parentesco entre Mestre Carlos e a família do Acais, argumentando ser aquele nascido na região e possuir o sobrenome de Barros. Procuro emitir uma opinião. Diz que esteve no Recife conversando com um bisneto de Maria, mas agora que é evangélico, não se dispõe a falar sobre os atributos de seus antepassados. Silenciosamente me pergunto: teríamos um novo interesse pela jurema de Alhandra? O que representa essa busca por Alhandra e mais particularmente, por Maria do Acais?
Penso nas relações de pesquisa constituídas durante o campo e dos compromissos assumidos. Agora tenho uma situação invertida. É alguém da religião que vem ao meu espaço, quer dialogar, conhecer, construir um conhecimento sistematizado pela escrita. Penso sobre o que o move, qual a pulsação que a fez sair de casa, caminhar pelas ruas e prédios da universidade, apenas com um nome, a procura de uma pessoa. Isso me faz lembrar algumas situações de pesquisa, como a vivida nos primeiros dias, na cidade de Patos, na Paraíba, e de como caminhei, indagando as pessoas sobre a existência de terreiros de Umbanda. Penso também nas possibilidades que meu visitante – Hélio, seu nome – aponta: para além de compartilhar conhecimentos, novas relações, compromissos, responsabilidades.
Mas algo me intriga: por que meu visitante (a procura de Maria do Acais) chegou exatamente na hora em que estava envolvido (mesmo que virtualmente) com Maria do Acais?
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