Filho dos ex-escravos João Grosso e Maria Haifa, nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano e viveu no período pós-abolição, numa sociedade rural marcada por um imenso contingente de brasileiros livres, desempregados e sem-teto, submetendo-se aos abusos e desmandos perpetrados por fazendeiros e senhores de engenho.
Besouro Mangangá - ou Besouro Cordão de Ouro -, um jovem forte e corajoso, que não sabia ler nem escrever, mas que jogava capoeira como ninguém e não levava desaforo para casa. Como quase todos os negros de Santo Amaro na época, vivia em função das fazendas da região, trabalhando na roça de cana dos engenhos. Mas, ao contrário da maioria, ele não tinha medo dos patrões. E foram justamente os atritos com seus empregadores - e posteriormente com a polícia - que deixaram Besouro conhecido e começaram a escrever a sua imortalidade na cultura negra brasileira.
Há poucos registros oficiais sobre sua trajetória, mas é de se supor que a postura pouco subserviente do capoeirista tenha sido interpretada pelas autoridades da época como uma verdadeira subversão. Não por acaso, constam nas histórias sobre ele episódios de brigas grandiosas com a polícia, nas quais ele sempre se saía melhor, mesmo quando enfrentava as balas de peito aberto. Relatos de fugas espetaculares, muitas vezes inexplicáveis, deram origem a seu principal apelido: Mangangá. Denominação regional para um tipo de besouro que produz uma dolorosa ferroada. O capoeirista era, portanto, "aquele que batia e depois sumia". E sumia como? Voando, diziam as pessoas...
Sua morte ocorreu num episódio cercado de controvérsias. Sabe-se que ele foi esfaqueado, após uma briga com empregados de uma fazenda. Registros policiais de Santo Amaro indicam que ele foi vitima de uma emboscada preparada pelo filho de um fazendeiro, de quem era desafeto. Já a lenda reza que Besouro só morreu porque foi atingido por uma faca de ticum, madeira nobre e dura, tida no universo das religiões afro-brasileiras como a única capaz de matar um homem de "corpo fechado".
Besouro tem uma idéia na cabeça: mostrar a dificuldade de individuação dos homens pobres (mais que negros) através de uma cultura que não chegou pelas caravelas, mas nos navios negreiros. Assim, mostra que o escravismo não cessou com a abolição e também que o racismo vai mais além da pele - se estende a tudo que é "diferente". A fortaleza cultural dos pobres inquieta os capatazes da cultura oficial.
Além da direção de João Daniel Tikhomiroff, tem fotografia do equatoriano Enrique Chediak, direção de arte de Cláudio Amaral Peixoto e figurinos de Bia Salgado.
Fonte: www.besouroofilme.com.br
O Tempo (Y. Valentim)
www.caminhadapelavidaeliberdadereligiosa.blogspot.com/
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