terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A festa como ritual


Recentemente participei de dois importantes rituais para as comunidades que os mantém. Trata-se da festa denominada de “vender o escravo” e o de “consagração na jurema” ou “enjuremar”, como é também conhecido.


A festa de “vender o escravo” foi realizada na Tenda Espírita Iemanjá Ogunté, bairro de Igapó, em Natal/RN. A festa é comemorativa para encerrar o ciclo de feitura de sete anos de filhos da casa. A idéia é que completado os sete anos de feitura no santo, o filho pode pleitear sua liberdade em relação a um compromisso estabelecido com a casa onde tem suas obrigações. A representação para esta suposta conquista de liberdade pode se efetuar através de dois caminhos: uma se dá pela possibilidade do escravo conseguir ganhos, como por exemplo, através de atividades produtivas. A outra é ele ser levado a leilão pelo dono da casa ao qual pertence.


Os dois caminhos citados são experimentados durante o ritual. Primeiro quando o escravo se apresenta vendendo produtos supostamente frutos do seu trabalho. Os produtos – basicamente alimentos: banana, mamão, uva, tapioca, mel, arroz doce, cocada – colocados sobre uma bandeja, que ele conduz, são oferecidos aos presentes. No segundo momento, é feito um leilão, quando são exaltadas suas qualidades, notadamente aquelas em relação à prática religiosa. No final, a Yalorixá dirigente da casa, simbolicamente oferece a quantia maior, garantindo a compra do escravo e sua permanência na casa.


Os atabaques anunciam que é hora de cantar para os orixás. O filho da casa, motivo da celebração, comanda a seqüência ritualística, ficando com a responsabilidade de saudar tanto as divindades cultuadas na casa como aquelas que os guiam.


O segundo ritual que acompanhei foi o de consagração na jurema, realizado no Centro Espírita de Umbanda Caboclo Aracati, no bairro de Nazaré, em Natal/RN. A consagração na jurema se refere à fase de assentar o mestre de um iniciado, através de uma seqüência de atividades ritualísticas que no seu conjunto também é conhecida como enjuremar. Este processo segue um primeiro momento de ordem privado, do qual participam o celebrante e alguns poucos enjuremados mais velhos da casa, quando efetivamente ocorre o chamado assentamento do mestre e do caboclo. O segundo momento é realizado no dia seguinte, através de uma festa pública para toda comunidade do terreiro e demais convidados. Na festa, o iniciado vai incorporar o mestre e vestir suas indumentárias – vestir o mestre, para em seguida ser apresentado. Cabe a ele dizer para a comunidade o nome do seu mestre, cantar seu ponto, dançar e conversar com os presentes.

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