Manoel Onofre Jr.
Noite de Natal, todo mundo ia ver o presépio armado na igreja matriz. Ohs de admiração cercavam a obra-prima de Dona Doninha dos Anjos. Dona Doninha era uma velha solteirona, “filha de Maria” exemplar e zeladora da matriz.
Beleza de presépio, o seu. Imagens de santos, antigas, misturavam-se com recortes de gravuras, tudo na maior ingenuidade. Via-se ali toda a dedicação da balzaquiana, que, não tendo ninguém para amar, amava o presépio, construindo-o com ternura.
Entre os que apreciavam aquele pedaço de beleza ingênua encontrava-se José. E tinha graça especial para o menino a imagem de um anjo que balançava a cabeça quando recebia uma moeda de esmola. O anjinho ganhava vida. Ao lado de José, sua mãe dizia:
- Menino, feche essa boca.
Horas depois, no barracão do Mercado, em meio a tabuleiros de cocadas, alfenins e aluá, o menino não se lembrava mais do presépio. Encantava-o o bulício daquele despotismo de gente, indo e vindo, imprensada, conversando, namorando, fazendo hora para a missa do galo.
A última fase da noite, que José não queria que acabasse, tinha lugar na igreja. A zoada do barracão transformada agora no mais puro silêncio. E presente e viva no silêncio a imagem do menino Deus.
Era comovente a religiosidade estampada na face daquela gente simples. Também comovente: pertinho do altar-mor, estreando calça de brim e alpercatas, seu Adauto da Lagoa Nova cochilava na paz de Deus, longe de sentir os beliscões que, de vez em quando, lhe dava dona Rita, sua cara metade.
Madrugadinha, José vinha vindo para casa, tão puro quanto o Deus menino. Ia dormir feliz, mas antes deixava ao pé da rede uma meia, para que Papai Noel nela colocasse o ansiado presente.
(Jornal Cultural O Galo. Ano XII, n°12. Natal: Fundação José Augusto, dez/2000).
Prof. Luiz parabéns pela postagem da matéria. Por favor, coloque sempre matérias que falam do povo do nordeste pois nós, sulistas, carecemos deste contato.
ResponderExcluirParabéns