Zé Maria do Pajuçara, como é conhecido, é natural da cidade de Natal, nascido no ano de 1977. Criado numa família espírita, sua avó, Luiza Gabriel de Góis (feita por Joãozinho da Goméia), possuía um terreiro no bairro da Redinha. Mas será no terreiro de João de Inês, nas Rocas, que pela primeira vez recebe uma entidade espiritual, uma preta velha. Em seguida passou a freqüentar a casa de Socorro e Magnus (na Pompéia). Estava com 14 anos de idade e nesta casa faz sua primeira obrigação para Oxalá e assentamento na Jurema para mestre Zé Pelintra e Cabocla Aracy. Posteriormente faz a renovação com Dedé Baiano.
Em 1991 abre seu terreiro, denominado Wer Oxum Agemum, no Conjunto Pajuçara. Com casa aberta, procura Fátima e Alexandre (do Parque da Floresta), quando, então, faz a raspagem e recebe deká. Posteriormente renova obrigação com Wilton de Oiá, em Paulista-PE.
O axé de dez anos foi realizado com Sérgio de Iemanjá (Parque das Dunas).
Atualmente sua casa está localizada na estrada de Genipabu.
No dia 23 de junho de 2009 a proposta deste Blog ganhava vida com a primeira postagem. Desde então tenho procurado está o mais próximo possível do ideal de dialogar com as pessoas que participam do campo de pesquisa ao qual tenho me dedicado ao longo de anos. Mais que isso, tenho procurado externar e defender princípios que respeitem acima de tudo os direitos humanos; uma sociedade democrática e culturalmente plural. E o resultado tem sido o melhor possível. São quase 7.300 pessoas que acessaram o Blog. Pessoas que tem deixado suas mensagens, estabelecendo contatos, contribuindo dessa forma para a continuidade de nosso processo de comunicação.
Agradeço a todos pela colaboração, apoio e por estarmos juntos.
Como hoje é noite festiva – aqui se festeja São João – noite de comemorar, celebrar passagens, colheitas. Distribuir, como em um banquete, os frutos da terra (milho, bolo, canjica, pamonha, cocada). Acender a fogueira, chama da vida.Então, nada mais propício do que partilhar com vocês a alegria dessa noite e da existência do Blog.
Nelci da Silva sempre viveu no sítio Jatobá, no município de Patu – RN. Era casada com seu primo João Batista, filho de João Luiz de Aquino, proprietário do sítio Jatobá. Desde cedo se dedicou a organizar as festas religiosas da comunidade, sejam novenas ou as festas para santo. Essa dedicação levou-a a pensar na construção da capela. Quando ficou pronta, mandou chamar o padre, uma missa foi celebrada e o santo – São Benedito – “batizado”.
Logo após o casamento Nelci ficou doente e começou a receber entidades espirituais. Com o tempo foi dedicando-se a atender aqueles que a procuravam e a realizar curas. Referia-se a sua prática como “trabalho de paz, amor e caridade”. Eram trabalho de cura, de atendimento as pessoas com problemas de saúde. Seus serviços de cura e proteção são procurados por pessoas de diversas cidades. Continua a realizar festas, agora também para orixá e logo após manda celebrar missa na capela.
Estabeleceu contato com Zé Dantas, um senhor de Natal, em suas passagens pela região. Com a continuidade, ela passou a viajar para a cidade de Mossoró, a procura de “trabalho” espiritual.
Para a realização de sua prática religiosa, Nelci utilizava dois espaços: uma sala de sua residência, chamada de “centro”, onde atendia a clientela; e a “jurema”, onde realizava rituais. A “jurema” ficava no mato, perto de sua casa e era conhecida como “a jurema de Nelci”. Ao lado da jurema, existia uma pedreira, onde ela aproveitava para riscar o “signo Salomão”. Na jurema, “ela fazia a jurema de chão, na jurema, no chão, bem limpinho, na jurema, aí nós ficava sentado no chão, todo mundo cantando”. Na pedra, ela fazia o símbolo do “signo Salomão” e “trabalhava”, sentada no chão, acendia vela sob o símbolo desenhado. O dia era a segunda-feira.
Quando incorporava o mestre, este passava os remédios: banhos, chás, meizinhas (remédio do mato). Nos rituais o instrumento musical que utilizava era o maracá, “cantava balançando o maracá” ou então “batendo no copo com a vela, o copo com água e a vela apagada, chamando as entidades”. Mas também, às vezes, usava as palmas para acompanhar os pontos cantados.
Na jurema do mato ela levava bebida, velas, cachaça, cigarro, vinho numa coité, “tudo no pé da jurema”. Ela começava saudando a jurema; pedia licença a Oxossi para poder fazer a entrega do material a ser despachado. Cantavam. A cachaça era despachada. Bebiam o licor da jurema. Seus trabalhos de “mesa de jurema” tinham início com uma reza. Em seguida cantava um ponto de abertura de mesa.
Em 1993, Nelci faleceu. Com a morte de Nelci, sua família não deu continuidade a sua prática religiosa. Aos poucos o centro foi sendo desmontado. O pé de jurema foi cortado, “e ela foi morrendo”. O “signo de Salomão” foi quebrado. Com a morte de Nelci, morre também sua prática religiosa. Todos se calam.
A morte de Nelci fecha o círculo da presença de elementos da cultura religiosa de matriz africana na comunidade. O tema passa a ser tabu; ninguém mais fala no “xangô” de Nelci. Alguns membros da família chegam a negar a participação de seus parentes nos “trabalhos” realizados pela religiosa. A negação da religião afro-brasileira passa a ser um dos elementos constitutivos na construção identitária do grupo.
A primeira vez que ouvi falar do mestre Rios Preto foi através de uma moradora da comunidade quilombola do Jatobá, em Patu - RN. No seu relato ela destacava ser este um dos mestres preferidos por Nelci em seus trabalhos de mesa de Jurema: “ela trabalhava com o povo das águas, povo da jurema, caboclo da jurema, mestre Rios Preto”. E ainda cantou alguns fragmentos do seu ponto:
Faleceu neste sábado (19), a romanceira Dona Militana.
Considerada pelos estudiosos como a mais importante romanceira do Brasil, Militana Salustino do Nascimento era natural do município de São Gonçalo do Amarante-RN, nascida na comunidade do Oiteiro, no dia 19 de março de 1925.
Como ela gostava de dizer, o dom do canto foi herança do pai, Atanásio Salustino do Nascimento, brincante de folclore no município. Memorizava os cantos cantados pelo pai. São romances originários da cultura medieval e ibérica e narram os feitos dos guerreiros, como contam histórias de reis e princesas.
Em 2002 o Scriptorim Candinha Bezerra e a Fundação Hélio Galvão produziram o álbum triplo Cantares com a gravação dos principais romances cantados pela romanceira.
Em 2005 recebeu do Presidente Lula a Medalha da Ordem do Mérito Cultural (Ministério da Cultura) a mais importante Comenda de Cultura Popular do Brasil.
Artistas, escritores, cineastas sempre utilizaram imagens para construir representações sobre a região nordeste, a terra e o homem, que vão desde aquelas que remetem ao banditismo (os cangaceiros), a seca (e os retirantes), como o exotismo (as festas, crendices, religiosidades).
O cineasta cearense Karim Ainouz tem realizado filmes em que procura retratar um nordeste do cotidiano, da margem. Um espaço em que os sujeitos têm nome, sofrem, ama, procuram viver, aproximando realidade e ficção, emoção e imagem.
Um dos seus filmes – O céu de Suely – precisa ser visto.
Sinopse do filme: O Céu de Suely (2006)
Dirigido por Karim Aïnouz, este filme conta a história de Hermilia (interpretada por Hermila Guedes), uma cearense que depois de tentar ganhar a vida em São Paulo volta para o Nordeste com o filho recém-nascido. Lá, sem dinheiro, espera pelo marido que nunca volta. O Céu de Suely tem um realismo que impressiona (os nomes de todos os personagens correspondem aos nomes dos atores na vida real) e bastante delicadeza, algo raro nas produções nacionais de hoje. Hermilia tentará viver dignamente vendendo rifas, mas logo descobrirá que vai precisar rifar outra coisa para conseguir sobreviver.
Com muitos cortes e poucos ganhos, o Senado aprovou nesta quarta-feira o Estatuto da Igualdade Racial. O texto aprovado suprime do projeto reivindicações históricas da população negra, como a definição de cotas para negros em diversas atividades, como em universidades, empresas e candidaturas políticas. O projeto segue agora para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No entendimento dos dirigentes da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), na forma como foi aprovado, o Estatuto é um instrumento frágil que pouco contribuirá na efetivação de direitos e de políticas públicas tão necessárias e urgentes para reduzir desigualdades raciais na sociedade brasileira, sem as quais, nada avançará no processo erradicação do racismo estrutural no Brasil.
José Xavier Bezerra nasceu em 1932, na cidade de Serra Caiada – RN. No ano de 1965 abriu o Centro Espírita Oxum Ara Maré, que identificava como sendo um espaço de umbanda. Sua iniciação foi feita no terreiro Maria de Angola, no Recife, com Júlio Gomes. Seu orixá é Orixalá, ou como ele gosta de afirmar: “Orixalá na cabeça, Oxum no coração e Ogum nas costas”.
Na jurema fez assentamento para seu Zé Pelintra e o caboclo Jaguaraçu.
Aos 78 anos de idade e com problemas de saúde, seu Xavier foi obrigado a parar com as atividades de atendimento ao público, terminando com o fechamento do seu Centro.
Shanghai, a moderna cidade símbolo do poder econômico chinês é tema do mais recente filme de Jia Zhang-ke.
No filme “Shang hai zhuan qi”, Jia Zhang-ke busca na memória de 18 pessoas as lembranças das consequências da Revolução Cultural que se seguiu à vitória dos comunistas em 1949. Ele vai ao encontro de sobreviventes que seguem vivendo em Shanghai, como também vai atrás de exilados que fugiram do comunismo e foram viver em Taiwan e Hong Kong. O que Jia Zhang-ke faz é salvar a memória das pessoas antes que elas sejam soterradas pelos canteiros de obra e sejam enterradas para sempre.
“É como ler 18 capítulos de um romance”, diz Jia Zhang-ke. “Exponho a lembrança, alegrias e sofrimentos de 18 pessoas e vejo como suas vidas de transformaram ou foram afetadas a partir da fascinante megalópole portuária de Shanghai”.
A arte de contar histórias, dar voz ao narrador, dar voz à história, está também no cinema, enfocada através de diferentes temáticas. Poderia apresentar uma grande listagem, mas hoje trago apenas dois filmes que tem como cenário o sertão nordestino: Narradores de Javé e Cabra marcado para morrer. O primeiro é uma produção recente, o outro, tem seu contexto nos anos de 1960. Em comum, as questões sociais do mundo rural sertanejo, a terra (e a falta dela), a exploração (inclusive dos poderes constituídos), a miséria das condições sociais de existência e a dignidade na narrativa de sua gente.
Narradores de Javé (Direção de Eliane Caffé. 2003). Quando os moradores de Javé tomam conhecimento que o povoado será encoberto pelas águas de nova hidrelétrica, se unem para reconstruir, com testemunhos da memória oral, sua história. Este recontar é feito com muito humor, ora com grandeza épica, ora com deboche.
Cabra marcado para morrer (Direção de Eduardo Coutinho. 1984). Em fevereiro de 1964 inicia-se a produção do filme que contaria a história política do líder da Liga Camponesa de Sapé (Paraíba), João Pedro Teixeira, assassinado em 1962. No entanto, com o golpe militar de 1964, as forças militares cercam a locação no engenho da Galiléia e interrompem as filmagens. Dezessete anos depois, o diretor Eduardo Coutinho volta à região e reencontra a viúva de João Pedro, Elisabeth Teixeira – que até então vivia na clandestinidade, recolhendo seu depoimento e de muitos dos outros camponeses que haviam atuado nas primeiras filmagens.
Uma de minhas recentes aulas foi dedicada ao tema narrativas orais, tendo como fio condutor a teoria da narração de Walter Benjamin, mais especificamente seu texto “O Narrador”.
Narrar é uma forma de reconhecer um acontecimento e torná-lo passível de um diagnóstico, uma leitura.O passado ganha vida na voz do narrador, que não apenas recria, mas constrói o passado no presente. Diz respeito a problemas sociais vividos em um determinado contexto social, numa realidade cotidiana, mas também as formas de representação e percepção desses problemas, o sentido que dirige essas ações. Assim, a narrativa implica processos de seleção e produção de atos narrativos individuais, elaboração de significados e interpretações, numa ação compartilhada socialmente.
Guiado por muitas das pistas deixadas por Walter Benjamin, como: “o narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes”, segui durante meses em busca dos mestres juremeiros do sertão nordestino.Conheci muitos deles, alguns grandes narradores, como mãe Quinha (Francisca Fernandes do Nascimento), na cidade de Souza – PB, que narrou seu aprendizado na jurema e o conhecimento das ervas e os ofícios, ainda criança, com sua avó.
Deixemos que mãe Quinha narre um pouco sua experiência de vida:
“Eu tinha problemas. Quando me atacava eu andava assim pelos matos, não dormia de noite, queria porque queria falar com a lua. Eu tinha um grande compromisso com a lua, lua nova, lua cheia, e hoje eu ainda tenho os mesmo compromissos, por que... olhe, na lua cheia eu vou trabalhar com as ervas jurema, arruda. Eu sou muito, muito, pegada também ao angico. Isso tudo eu aprendi com minha avó. Ela dizia: minha filha quando for na lua cheia vamos colher angico. Mãe, a senhor vai colher essa tigela de angico? Vamos, minha filha, colher angico. Pra que a senhora quer angico? Isso vai servir pro home, minha filha. Ela chamava a força do pé, né? Ali ela fazia aquelas garrafonas cozinhada com angico e enchia aqueles vidros... e aqueles agricultores dizia: dona Madalena, eu vim rezar um com problema na pele. Ela ali já fazia o banho de jurema, cozinhava a jurema no óleo e depois daquele banho que ela dava, banho com sabão feito de coco em casa e pegava aquela jurema que ela tinha cozinhada e dava o banho na pessoa todinha. E eu, menina em 1957, era quem carregava a bacia dela, né?” (trecho extraído do livro “O reino dos mestres”).
Avaaz.org informou que em menos de 24 horas foi alcançado à meta de 200.000 assinaturas. A primeira entrega da petição já foi feita e a pressão continua.