sábado, 5 de setembro de 2009

O João Redondo de Chico Daniel


João Redondo é a nominação que toma o teatro de bonecos no Rio Grande do Norte. Na Bahia, ela é Mané Gostoso; Babau, na Paraíba; João Minhoca, em Minas Gerais; Mamulengo, em Pernambuco; Cassimiro Abreu, no Ceará.

Câmara Cascudo, em o Dicionário do Folclore Brasileiro, define o João Redondo como uma espécie de divertimento popular, que consiste em representações dramáticas, por meio de bonecos, em um pequeno palco.

O enredo do João Redondo é fragmentado em diversas histórias e o herói da brincadeira é o escravo Benedito, conhecido pelo nome de Baltazar. Além deste, outros personagens compõem a brincadeira: Capitão João Redondo, Etelvina, Policiais e Padre.

No RN alguns mamulengueiros tornaram-se conhecidos por sua arte: os irmãos Relampo (Zé, Miguel e Antônio), de Serra Caiada; Chico Rosa, de São Paulo do Potengi; seu Bastos, de Currais Novos; Chico Daniel, de Açu, entre outros.

Em 2004 Ricardo Canella defende dissertação no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN tendo como objetivo compreender como se efetua o processo de construção das personagens no João Redondo de Chico Daniel.

Francisco Ângelo da Costa – Chico Daniel – nasceu em Açu/RN no dia 05 de setembro de 1941. Seu pai, Daniel, era também brincante, com quem Chico aprendeu a arte do mamulengo, herdando inclusive alguns bonecos, como gostava de lembrar.

A dissertação de Ricardo Canella está estruturada em quatro capítulos. No primeiro, discorre sobre a descoberta do tema e o encontro com Chico Daniel. O brincante fala sobre sua trajetória de vida e levanta questões sobre o que é brincar o João Redondo. No segundo capítulo, vai se dedicar a refazer os itinerários do teatro de bonecos desde trajetos mais remotos até sua chegada ao Brasil e sua transformação em brincadeira de João Redondo no solo potiguar.

No capítulo três, vai se dedicar ao João Redondo vivido por Chico Daniel. Destaca seu fazer como original, tomando os personagens e a histórias como exemplares. Segundo a idéia do autor, o brincante ao longo de sua trajetória vai desenvolvendo uma técnica muito específica em torno de sua brincadeira. Para demonstrar, Canella analisa alguns elementos que compõem a apresentação: bonecos, figurinos, adereços, texto, oralidade, cenografia, improviso, entre outros.

O capítulo quatro vai tratar especificamente da construção das personagens no João Redondo de Chico Daniel. Ressalta que a personagem no teatro de bonecos é uma personagem tipo, convencionada socialmente, com características físicas e morais geralmente identificadas pela platéia. Por sua vez, estes personagens estão vinculados a uma memória histórica perpetuada pela tradição e permanentemente atualizada. Canella vai então demonstrando as características de cada personagem através de suas análises e das leituras que faz de outros autores, como das histórias elaboradas pelo brincante. Dessa forma os personagens vão ganhando vida nas páginas da dissertação: Baltazar, Dr. Pindurassaia, Etelvina, Capitão João Redondo, Boi Coração, Mestre Guedes, o Malandro de coca-cola, o Padre, Dr. João Bondado, Cassimiro Coco, Tenente Bezerra de Melo, Pedro Marinheiro, João Guedes e o Cachaceiro.

Chico Daniel, cidadão natalense, faleceu em 2007.

Referência:
CANELLA, Ricardo. A construção da personagem no João Redondo de Chico Daniel. Dissertação de Mestrado. Natal: UFRN/PPGCS, 2004.

4 comentários:

  1. Fico contente em saber que temos esse registro sobre o teatro de bonecos de Chico Daniel e que foi feito antes de seu falecimento. Merece uma publicação mais ampla. Adoro o teatro de bonecos, é plástico, poético, lúdico e de extrema inteligência.
    Saudaç~eos

    Petrucia Nóbrega

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  2. Fico Feliz em saber que essa história não se perdeu no tempo. sou muito fã de Chico Daniel, perseguia suas apresentações aqui em Natal, fiquei sabendo que o livro escrito “Chico Daniel — A Arte de Brincar com Bonecos”, lançado em 2002 pelas jornalistas Ângela Almeida e Marize de Castro, foi esgotado antes dele morrer, numa de suas apresentações eu perguntei a ele, ele confirmou que não tinha mais exemplares para vender.

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  3. Obrigado, isso me ajudou muito em um trabalho de Artes

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Universidade de Lisboa