domingo, 20 de setembro de 2009

A poesia de Dércio Braúna

E aos poucos vou sendo apresentado e me fazendo conhecedor de um pulsante mundo de palavras e idéias gestadas nas terras de Limoeiro do Norte/CE. É o caso do poeta e escritor Dércio Braúna e o seu querer “reencantar o mundo”. Na apresentação de um dos seus livros ele escreve: “A poesia que aqui ganha escritura (braçal orquestração de pequenas brutas coisas) se ergue desse chão. Não lhe há rosa ao caminho, sob o sol; há-lhe a ordinária erva-sem-eira; não lhe há canto, só o estrondo, os esbatidos pulsos dentro das paredes da cabeça; não lhe há delicadeza senão a precária e humana necessidade de irmos levantando ao chão aquilo que vamos a ser”.

Dos seus escritos recolho fragmentos.

De mim
Já não sei o que desaba e fere
Mas uma ainda-palavra
(ázimo pão!) me resta:
A ela me agarro
E me salvo cada dia.


Não escrevo para que me leiam
Menos ainda para que me entendam.
Se escrevo
É para que esse fio tênue
Que me ata à vida
Se não parta ainda.


Fui sempre,
Desde que a árida veia deste sol
Me testemunhou,
Erva-só.


Pegue-me teu.
Apanhe-me
O gesto
Que ponho
(entre lábios)
Em tua boca.
Tome-me
Como a um cão molente dócil
Numa manhã de tessitura cinza-branca.

Dércio Braúna participou de diversas antologias, ganhou prêmios literários e escreveu os livros “A selvagem língua do coração das coisas”(2005) e “Metal sem húmus” (2008). Contato: derciobrauna@bol.com.br

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