segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Viagem ao Acaes


Em outubro de 2003 tive a oportunidade de conhecer Acaes, em Alhandra/PB. Fui a convite de Sandro Guimarães, meu orientando, que na época realizava pesquisa na tão conhecida terra de Maria. Estive na propriedade, percorri seus espaços, como querendo sentir os caminhos vividos pela famosa catimbozeira. Conheci seus pés de jurema, a casa onde atendia a clientela, a capela, a casa da residência. Conversei com Dorinha e Beatriz e elas me mostraram a mesa de trabalho de Maria. Ainda estava lá, a princesa, o fumo, os cachimbos e as imagens de alguns santos.


Em meu caderno de campo fiz algumas anotações que transcrevo a seguir: o acesso para Alhandra se dá pela BR-101, sentido João Pessoa-Recife. O primeiro local a visitar foi à fazenda onde residiu a prestigiosa catimbozeira Maria do Acaes. Situada antes de chegar à cidade, na margem da estrada, do lado direito. Na frente da casa, está escrita Vila Maria Guimarães.


A fazenda do Acaes é formada por duas casas, um coreto e uma capela. Por traz da capela está sepultado mestre Flósculo Guimarães, filho de Maria e pai das duas moradoras e herdeiras da Fazenda.


No lado esquerdo da casa principal tem um pé de jucá. Na parte que fica por traz das casas, encontra-se a cidade da jurema do Acaes. No local estão plantadas três juremas, dos Mestres Desembaraçador, do Bom Menino e Major do Dias (sendo esta a maior). O espaço é amplo, limpo. No pé da jurema as pessoas colocam oferendas, acendem velas. Andando um pouco mais, lado direito por traz da casa principal, em direção ao rio, vamos encontrar uma casa de taipa, é a mesma construída por Maria, destinada para a realização dos seus trabalhos.


As herdeiras da propriedade não deram continuidade ao culto da jurema. Conservam as juremas cultuadas por Maria e permitem que as pessoas façam culto no local. Conservam a mesa usada por Maria nas sessões de jurema, como também alguns dos seus objetos: duas bacias que formam as princesas, maracá, dois cachimbos, uma gaita e uma cuia para beber jurema.


Do Acaes fui conhecer a cidade da jurema do Mestre Cesário, um espaço localizado em uma propriedade particular e que na época o seu dono permitia a visitação e realização de cultos. Nesse mesmo dia conheci ainda o Templo Religioso Orixá São João Batista, do Pai Edu (Josué de Deus Quaresma) e a casa de Mestre Inácio, conhecido na região por seus trabalhos de cura, com o qual tive o prazer de uma longa conversa. À noite, participei de um toque de jurema no terreiro de Mestre Ciriaco, pescador, que divide com a esposa a condução do espaço religioso. Antes da realização do toque, seguindo a tradição da casa, é realizada uma abertura em mesa de jurema. Todos os presentes são chamados a se dirigir a uma pequena sala ao lado daquela onde seria realizado o toque, iniciando-se a abertura dos trabalhos. Mestre Ciriaco conduz a mesa. Faz orações católicas pedindo proteção. Canta alguns pontos de jurema, uma espécie de “ladainha”. Faz a defumação do espaço e dos presentes. Recebe um mestre e dá proteção para todos. O toque de jurema ocorre depois da meia noite. Caboclos e mestres são chamados ao salão, conversam com os presentes, dão orientações.


Ao lado, uma sequência de fotos que fiz durante a viagem ao Acaes.

4 comentários:

  1. Caro Luiz, se quiser vender seu disco aqui pelo sudeste - tem muita gente pedindo, que não tem como baixar - nós da Ayom distribuímos vários discos independentes. Veja aqui: http://ayomrecords.blogspot.com Se se interessar, nos escreva: ayom77@gmail.com

    Abração!!

    ResponderExcluir
  2. MAs, me oriente: Maria do Acaes foi a mais velha Catimbozeira? Em que ano esse pessoal atuou? Minha vó era Guarani e fazia um culto assim na minha infância. Mas ela dizia que era tudo indígena e diferenciava o Toré (que ela dizia ser mais a linha dela) do Catimbó e da Jurema, que ela considerava como ritos distintos, mas dizia ser tudo Umbanda, na verdade.

    Uma pena que tudo tenha se perdido e é interessante como no Brasil inteiro a Encantaria se espalhou.

    Saravá!!

    ResponderExcluir
  3. Amigo Obashanan: agradeço muito por seu apoio, mas o CD Pontos de Jurema, como foi uma produção da fundação de cultura da Prefeitura de Natal, foi distribuido gratuitamente. Coloquei no meu blog para baixar. As pessoas não estão conseguindo fazê-lo, é isso? Caso seja posso verificar o que está acontecendo.
    Grande abraço,
    Luiz

    ResponderExcluir
  4. Amigo Obashanan, estou achando otimo este diálogo contigo. As observações sobre sua avó são preciosas. Depois quero comentar com mais tempo. Mas a Maria do Acaes que falo é a segunda, catimbozeira de muito prestigio. Vai de Recife para o Acaes no final dos anos de 1930. Foi visitada por intelectuais famosos e sua fama correu pelo nordeste como o catimbó de mais tradição - a tradição do Acaes, de Alhandra. Hoje com a venda da propriedade quase tudo foi destruido.
    Grande abraço,
    Luiz

    ResponderExcluir

Universidade de Lisboa